Polícia frustra plano de cinema para resgatar líderes do PCC.

Polícia frustra plano de cinema para resgatar líderes do PCC

Secretaria de Segurança Pública de São Paulo vai pedir à Justiça a internação de quatro líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), entre eles Marcos Willians Camacho, o Marcola – um dos principais nomes do “partido do crime” –, no Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) do Presídio Presidente Bernardes.
 

A decisão foi anunciada nesta quinta, um dia depois de o jornal O Estado de São Paulo, por meio do portal estadão.com.br, revelar que o PCC tem um plano para resgatar Marcola e os outros três líderes. As informações sobre o plano constam em um relatório sigiloso preparado pela inteligência das Polícias Civil e Militar e pelo Ministério Público Estadual (MPE), em mãos da Justiça paulista. Para que o plano desse certo, três integrantes da facção tiveram aulas de voo em 2013 no Campo de Marte, na zona Norte da capital. O professor dos bandidos foi, segundo o relatório, Alexandre José de Oliveira Junior, copiloto do helicóptero do deputado federal Gustavo Perrella (SDD-MG).

Oliveira Junior foi preso em 25 de novembro do ano passado no Espírito Santo pela Polícia Federal quando descarregava 450 quilos de cocaína de um helicóptero – a aeronave pertencia ao deputado.

A facção começou seu plano em janeiro do ano passado. Os bandidos montaram uma base em Porto Rico, no Paraná. De lá, iriam de carro até o Aeroporto de Loanda, também no Paraná, que seria o ponto central do plano.

Aeronaves compradas em São Paulo ou sequestradas pousariam em Loanda, na região de Maringá, onde carregariam a tropa de assalto do PCC. Seriam dois helicópteros – o Esquilo é o modelo usado pela PM. A intenção dos bandidos era camuflá-lo para que policiais que guardam a muralha da Penitenciária-2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, o confundissem com uma helicóptero Águia.

A outra aeronave carregaria a metralhadora e daria proteção ao Esquilo. Durante a aproximação, Marcola, Claudio Barbará da Silva, Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, e Luiz Eduardo Marcondes Machado, o Du Bela Vista, sairiam de suas celas em direção ao pátio interno. As grades delas já estão serradas e camufladas. Os quatro bandidos subiriam em um cesto blindado, preso ao helicóptero.

Uma equipe de 15 homens do Comando de Operações Especiais (COE) com seis atiradores de elite está de tocaia na mata ao redor da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no Oeste paulista, à espera da tropa do Primeiro Comando da Capital (PCC) que planeja resgatar Marcola.
 

Telefonemas grampeados revelaram ousadia dos bandidos

São Paulo. Um telefonema do dia 2 deste mês mostra o ânimo dos bandidos do PCC: “Daqui uns dias não vai ter jeito. Ou nós vamos estar mortos ou vamos estar na rua ou vamos estar no BIG (o presídio de Regime Disciplinar Diferenciado de Presidente Bernardes)”. A frase é de um dos maiores sequestradores do Estado: Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden. Ele, Marcola e outros dois presos do PCC que seriam resgatados por comparsas em um helicóptero blindado. Em 6 de janeiro de 2013, o criminoso Cláudio Barbará da Silva, que também seria resgatado, teve um telefonema interceptado pela inteligência policial na qual ele comentou que a facção tinha a intenção de comprar uma aeronave e blindá-la. Contou ainda a um comparsa que a organização estava preparando um piloto e um copiloto para executar a missão. Em 9 de fevereiro de 2013, ele fez uma nova ligação. Conversou com um bandido e disse que um comparsa estava montando o campo de treinamento no Paraguai para cumprir a missão. Em maio, aparece nas investigações o nome de Elaine Luchetti, a Jordana, mulher de Barbará. Ela serviria de intermediária, informando ao marido o andamento do plano. Na época, o PCC estava com dificuldade para treinar pilotos em função da diferença entre os modelos de aeronaves.

Copiloto de helicóptero com pó seria professor de bandidos

O copiloto do avião do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD-MG) que foi apreendido com 450 kg de cocaína no Espírito Santo, Alexandre José de Oliveira Júnior, aparece nas investigações da polícia paulista como o professor dos pilotos do PCC.
 

 

Oliveira Júnior está preso em Vitória, capital do Espírito Santo, desde então – novembro de 2013, aguardando julgamento do caso do helicóptero. O advogado dele, Heraldo Mendes de Lima, disse à reportagem que, após saber da denúncia, se reuniria nesta sexta com a família de seu cliente para tomar uma posição.

Ele disse ter conversado por telefone nesta quinta com a esposa do preso. “O que posso te adiantar, de antemão, é que conversei com a esposa do Junior e ela me garantiu que a acusação é infundada”. A mãe do acusado de ser o professor de voo do PCC, de acordo com o advogado, teria passado mal ao saber do caso.

Ele afirma que, caso as acusações sejam verdadeiras, vai abandonar a defesa de Oliveira Júnior. “Só o defendo no processo do helicóptero porque, segundo as informações que tenho, ele não é dado ao costume de fazer esse tipo de coisa. Mas se ele estiver trabalhando para facção criminosa, eu não defendo esse tipo de crime”, disse.

O delegado Leonardo Damasceno, responsável pela investigação do helicóptero carregado de cocaína, afirmou que as apurações do caso já haviam detectado envolvimento de Júnior com o transporte de drogas. “Envolvimento pontual, só o piloto tinha”, afirmou. Ele não quis se pronunciar sobre a acusação de envolvimento do copiloto com o plano de fuga do PCC. “Para mim, a questão do helicóptero já está em ação penal e não tenho nada para falar”.

Defesa. O deputado Gustavo Perrella disse nesta quinta a O TEMPO que Alexandre de Oliveira Júnior não era copiloto de sua aeronave e nunca trabalhou para a família. “Não conheço esse Alexandre, nunca vi a cara dele”, afirma o político. Perrella afirmou há uma confusão no caso.

“O Rogério (Almeida Antunes) era o meu piloto. No dia da apreensão (do helicóptero), ele foi preso com esse Alexandre, que nunca trabalhou para mim”, afirmou à reportagem.

O deputado nega ainda ter conhecimento de qualquer envolvimento de seu ex-funcionário com Júnior. “Se eu soubesse, já tinha mandado ele embora há muito tempo”, diz.
 

Escadinha impressionou ao fugir de helicóptero em 1985

Na tarde de 31 de dezembro de 1985, o traficante de drogas José Carlos do Reis Encina, o Escadinha, foi resgatado de helicóptero do extinto presídio Cândido Mendes na Ilha Grande, Rio de Janeiro. A fuga surpreendeu pela audácia. O presídio da Ilha Grande, demolido em 1994, era de segurança máxima. O que dava total segurança era o isolamento do presídio e as dificuldades impostas pela natureza. Dificilmente algum preso escaparia por terra. No dia da fuga, Escadinha escapou do presídio e foi para a praia Coroa Grande. Lá esperou Gordo que o resgatou. Por ironia do destino, Escadinha voltou ao presídio de helicóptero. Ele foi capturado numa cama de hospital, após ter levado dois tiros.

Fonte: O tempo