Levantamento revela aumento de presídios e queda de escolas.

Levantamento revela aumento de presídios e queda de escolas

O Brasil constrói mais presídios do que escolas. O alerta é feito pelo Instituto de Pesquisa Avante Brasil, que verificou, a partir de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que, entre 1994 e 2009, houve redução de 19,3% no número de escolas públicas do país. Em 1994, havia 200.549 instituições, contra 161.783 em 2009. Em contrapartida, no mesmo período, de acordo com dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o número de presídios aumentou mais de 200%, chegando a 1.779 unidades.

O coordenador de educação do Ipea, Divonzir Gusso, admite que o número de escolas caiu, mas alega que isso ocorreu por questões demográficas e estratégicas. No entanto, para o coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Luís Flávio Sapori, a comparação não faz sentido porque "uma coisa não exclui a necessidade da outra, e a sociedade precisa de ambas". "Temos que analisar os dois aspectos separadamente dentro de seus contextos", alerta.

O diretor do instituto Avante, Luís Flávio Gomes, considera este um bom momento para se discutir a adoção de modelos sociais que deram certo, como os de Nova York, nos EUA, e de Bogotá, na Colômbia.

Nos últimos dez anos, o total de presos na metrópole norte-americana caiu 32%, e os crimes graves foram reduzidos aos mesmos patamares. O prefeito Michael Bloomberg diz que a principal tática da polícia é a expansão dos programas sociais, que têm livrado milhares de pessoas de ir para a cadeia.

Segundo o levantamento do Avante, nos últimos dez anos (2003/2012), houve aumento de 78% no total de encarcerados no Brasil, contra 5% nos EUA. Se forem considerados os últimos 23 anos (1990/2012), esse crescimento chega a 511%. No mesmo período, a população nacional aumentou 30%. "Um país que investe mais em punição e prisão do que em educação é um país doente, que sofre de uma inversão de valores", avalia Gomes.

Advogado e doutor em direito penal, Gomes diz que é preciso pensar em "quem é que realmente queremos nas prisões" – para ele, deveriam ser presos apenas bandidos violentos, autores de estupros, homicídios e latrocínios.

Para o diretor do Avante, existem, basicamente, três formas de delinquência: a violenta, a imprudente (que provoca acidentes de trânsito, por exemplo) e a fraudulenta (que ocasiona furto, corrupção e peculato). "São bem distintas. As primeiras causam derramamento de sangue, perda de vidas, e a última, prejuízo. E aí? Vamos responder a elas da mesma forma? É preciso pensar que trancafiar uma pessoa custa caro e coloca o réu em contato com o crime organizado", diz.

Para Sapori, o problema é que o país tem altíssimas taxas de crimes violentos. Ele lembra que o déficit de vagas no regime fechado do sistema prisional é "inimaginável", oscilando em torno de 180 mil, "sem falar no número de mandados a cumprir". Para Sapori, o Depen faz o seu papel, "construindo prisões para conter a bandidagem que não para de crescer". Ele disse ainda que afirmar que são necessárias "mais escolas do que prisões é uma falácia, porque a existência de uma não exclui a necessidade da outra".

Sobre as penas alternativas, o estudioso acredita que o Brasil já tem uma política bem consistente nessa seara e que, para ir além disso, seria preciso fazer uma ampla revisão do Código Penal Brasileiro. O diretor do Instituto Avante, por sua vez, apoia e propõe a prisão domiciliar para casos de corrupção ou crimes de trânsito, com monitoramento eletrônico custeado pelo infrator. "Se ele deu prejuízo aos cofres públicos, que devolva o que tomou indevidamente".

No blog do Ministério da Justiça, o diretor do Depen, Augusto Rossini, defende o aumento da aplicação de penas alternativas. Segundo ele, o Sistema Brasileiro de Penas e Medidas Alternativas teve seu modelo reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma boa prática para a redução da superlotação carcerária.

Ministério da Educação
Cresce o número de alunos em cursos profissionalizantes

A queda no número de escolas públicas brasileiras dos anos 90 para cá é justificada por Divonzir Gusso, coordenador da área de educação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por fatores demográficos (o número de nascimentos vem caindo desde a década de 70), por questões de readequação de estabelecimentos que estavam ociosos em zonas rurais e foram transferidos e ampliados para áreas urbanas e, ainda, pela queda nos índices de repetência, o que diminui a necessidade de vagas.

O Ministério da Educação (MEC), por sua vez, acrescenta que as matrículas na educação profissional cresceram 74,9% entre 2002 e 2010, segundo dados oficiais do Censo Escolar. Em 2010, o país tinha 1,1 milhão de jovens na educação profissional, enquanto em 2002 eles somavam 652.073.

No mesmo período, a rede federal de educação profissional passou de 77.190 alunos para 165.355, o que representa crescimento de 114%. A trajetória de expansão da educação profissional também pode ser vista entre 2007 e 2010. Em 2007, as matrículas eram 780.162.

Ao alcançar 1.140.388 neste ano, o crescimento é de 46% no intervalo. Além disso, de acordo com o MEC, o atendimento em creches no Brasil cresceu 10,5% na comparação entre 2011 e 2012 e chegou a 2.540.791 matrículas de crianças de até 3 anos de idade. A expansão no número de matrículas é de 476 mil desde 2010 – crescimento de 23% nos dois últimos anos. Os números são do Censo Escolar de 2012, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.

 

Fonte: Jornal O Tempo, 10 de fevereiro de 2013