Disparada da violência em BH aprisiona as famílias e muda rotinas.

Disparada da violência em BH aprisiona as famílias e muda rotinas

“A violência está fora do controle”. Essa foi a opinião de todas vítimas de crimes na capital mineira entrevistadas na última semana por O TEMPO. Em uma roda de conversa, a probabilidade de haver alguém que foi assaltado em Belo Horizonte é cada vez maior. Há quatro anos, a violência na cidade aumenta gradativamente.


Latrocínios – roubos seguidos de morte – como os que causaram a morte de Matheus Salviano, 21, e Christiano D’Assunção, 34, nos últimos dias, trazem de volta o medo generalizado que existia na última década na capital. No ano passado, os índices de criminalidade violenta atingiram a marca de 2006, o que é considerado um retrocesso entre especialistas. Na região metropolitana de Belo Horizonte e no restante do Estado, a situação não é diferente.

Há dez anos, quando a capital tinha um roubo a cada 14 minutos, o governo de Minas colocou em prática um grande plano de combate à criminalidade. A medida funcionou por cinco anos e reduziu os índices naquele período. Depois, os crimes voltaram a subir. Em 2013, a cidade chegou a registrar 28.640 assaltos – praticamente um a cada 19 minutos –, mais que em 2006, que teve 27.801.

O comerciante André Luiz Bastos, 47, foi uma das vítimas. Ele está com uma bala alojada na coxa há duas semanas, mas a marca de violência sofrida não é só física. O trauma deixado nele e no pai, Jasílio Bastos, 81, será o mais difícil de conviver. A drogaria deles, no bairro Sion, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi assaltada por dois bandidos armados no último dia 3. Os criminosos fugiram e estão soltos.

“Eles (assaltantes) entraram como clientes, no horário de fechamento. Por pouco, meu filho não morreu, porque a bala desviou. O susto custa a passar. O sentimento que temos é de medo e de abandono. Só estamos trabalhando porque precisamos”, conta Jasílio Bastos.

Estagnação. O plano de segurança do Estado não foi renovado nos últimos anos, segundo Frederico Couto Marinho, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp). “Os investimentos foram basicamente de custeio. As políticas lançadas deixaram de ser eficientes, e não há cobranças por resultados. Não houve inovação em investigação, por exemplo”, afirma. Ainda segundo ele, esse retrocesso é um cenário desolador tendo em vista a proximidade do fim do mandado do governo atual.

“O plano do governo (lançado em 2004) foi pensado para chegar em 2014 com uma redução expressiva da violência. Em 2010, era para ter sido feita uma avaliação dos resultados. Mas a política de segurança caiu em inércia, e os aperfeiçoamentos deixaram de ser feitos”, destaca o sociólogo Luiz Flávio Sapori, que foi secretário adjunto de Defesa Social de Minas entre 2003 e 2007.

Segundo especialistas, programas primordiais como o Fica Vivo – desenvolvido em aglomerados para prevenir a ocorrência de homicídios entre adolescentes – perderam força e investimento. A integração das polícias Civil e Militar é outra ação que não estaria funcionando. “Há muito discurso, mas na realidade não funciona. Esse é um dos maiores problemas, que impedem a resolução de crimes a partir da troca de informações”, explica Guaracy Mingardi, ex-subsecretário de Segurança Nacional. 

Governador

Mutirão. Em recente entrevista ao programa Roda Viva, o governador de Minas defendeu a união de esforços do governo federal, Estados, municípios e sociedade para enfrentar a criminalidade.

Fonte: O Tempo