07 de Abril – dia do Médico Legista
Neste 7 de abril, em homenagem ao dia do Médico Legista, o Sindpol/MG realizou uma entrevista com o Dr. André Luiz Barbosa Roquette, um dos mais conceituados e admirados médicos legistas de Minas Gerais. Há 28 anos na Polícia Civil e hoje ocupando o cargo de Superintendente de Polícia Técnico-Científica do Estado.
Sindpol- Como é ser um médico legista?
André Roquette– Ser um médico legista é antes de tudo um sacerdócio, a medicina em si é uma profissão que atrai muito e que exige bastante da pessoa e particularmente a Medicina Legal exige muito mais porque convive com as mazelas da humanidade, os delitos, o mundo periférico da maldade.
Sindpol – Porque o senhor decidiu ser médico legista? Há quanto tempo está na Polícia Civil?
André Roquette– Inicialmente por uma questão de sobrevivência, porque eu fazia um mestrado na Universidade, precisava de um emprego e queria um cargo público, mas ao longo da minha carreira adquiri um carinho especial ao Instituto Médico Legal. Eu estou há 28 anos na Polícia Civil.
Sindpol- Quais as atribuições necessárias que um médico precisa ter para se tornar um legista?
André Roquette– O médico para ser um legista ele tem que fazer um concurso público, uma vez aprovado no certame, ele precisa cursar a Academia de Polícia, um curso de formação de 6 meses. Essa formação específica ele faz dentro da Academia através de disciplinas ligadas a hierarquia policial, a política policial de uma maneira geral, as técnicas investigativas, aulas de Medicina Legal, curso prático com plantões no IML, isso tudo para quando formarem já saírem aptos para trabalhar na capital e interior.
Sindpol- Quais as principais atividades do médico legista?
André Roquetti– O médico legista faz perícia nos vivos e nos mortos, existe essa ideia de que o legista trabalha apenas com a morte. Realizamos aproximadamente 500 necropsias por mês no IML, enquanto as perícias nos vivos são em torno de 5 a 6 mil mensalmente. O grande volume do IML são as perícias nos vivos.
Sindpol- Como é o dia-a-dia de trabalho desse profissional?
André Roquette– O dia-a-dia vai depender da área em que ele se encontra, se for um médico legista psiquiatra ele vai trabalhar na psicopatologia realizando laudos de inimputabilidade, caso seja um médico do plantão vai estar no necrotério fazendo necropsia em um determinado momento do dia e no outro realizando as perícias nos vivos, que chegam ao plantão. Basicamente nós temos dois regimes diferenciados que é o regime de plantão e o outro de expediente. No plantão se faz perícia no vivo e no morto, no regime de expediente as perícias especializadas.
Sindpol- Quais as principais áreas de atuação e especialidades?
André Roquette– As especialidades são psicopatologia forense, psiquiatria, perícias especializadas, odontologia, avaliação do mal resultado profissional, antropologia forense, perícias no necrotério e sexologia forense.
Sindpol- Quais as principais curiosidades das pessoas quando o sr. diz que é médico legista?
André Roquette– A maior curiosidade é a morte, saber como que a gente lida com o cadáver, se eu vejo a morte diferente de outras pessoas, se eu me habituei em ver a morte, o imaginário popular é muito dirigido nessa incerteza que a morte tem para todos nós.
Sindpol- E o sr. se acostumou com a morte?
André Roquette– O médico de um modo geral ele é acostumado com a morte, o que às vezes choca a gente é a questão dos acidentes que interrompem a vida das pessoas de uma maneira muito brusca, os crimes sexuais que deixam sequelas intermináveis nas famílias, mais o cadáver em si é da vida do médico, ele está acostumado. O médico aprendeu anatomia e fisiologia no cadáver, então quer dizer, o cadáver é da vida profissional. O cadáver de crime é que às vezes choca um pouco pelas circunstâncias, mas nada que a gente não consiga superar com o profissionalismo.
Sindpol- Tem algum caso que o sr atuou e que mais te marcou, o sr. poderia falar qual tenha sido?
André Roquette– Um caso especificamente que tenha me marcado não, eu acho assim, uma coisa que marca muito a gente são os crimes contra as crianças, sempre é muito ruim você examinar uma criança morta ou por violência física ou sexual, esses casos marcam muito a gente, mas nós tentamos nos abstrair disso, não ficar sempre com um caso na cabeça, porque é ruim para a nossa saúde mental, precisamos tratar a coisa de uma maneira mais racional e menos emocional.
Sindpol- Como é feita a carreira do médico legista?
André Roquette– A promoção do legista é igual à de qualquer outro policial, existe uma resolução da Polícia Civil que pontua as titulações e ele recebe notas, esse sistema de promoção tem duas vertentes, uma é por tempo de serviço, quando ele alcança o tempo de serviço e quando o médico é mais velho ele é automaticamente promovido – os graus são I, II, III e classe especial – agora tem aqueles que por relevantes serviços prestados, porque tem uma titulação maior, recebe uma pontuação, de acordo com a resolução normativa da polícia, e é promovido, assim como qualquer outro policial.
Sindpol- Tem algo que o sr. gostaria de acrescentar?
André Roquette– É importante salientarmos os avanços da Medicina Legal para a sociedade, primeiramente tem a questão da sexologia forense, que o IML faz o treinamento e a Cadeia de Custódia, o órgão é linha de frente desses projetos federais e do Ministério Público, mas quem permeabiliza tudo é a Medicina Legal. O segundo ponto importante são os convênios com as cidades, que atualmente o IML possui, nós temos aqui dentro convênios com a Psicologia, Química, Serviço Social, curso de Medicina de algumas Faculdades, temos uma gama de Universidades que fazem os seus estágios regulares em convênio com a Polícia Civil dentro do IML. O terceiro avanço é a questão do MG Transplante, porque antigamente a pessoa tinha que vir para o IML fazer a necropsia e demorava na liberação do corpo, então hoje quando a pessoa é um doador de órgão e ele está no Pronto Socorro, uma equipe é deslocada para o local para poder fazer essa necropsia no hospital, na tentativa de agilizar a doação. As informações repassadas pelo MG Transplantes são de que depois que o IML entrou houve um aumento significativo de doações, as famílias não doavam porque demoraria demais na liberação do corpo, então com essa atitude aumentou o número de doadores.
Outro fato importante é a posição do IML nos eventos, como os jogos de futebol, os grandes shows em BH, sempre a Dra. Lena Lapertosa, que hoje é a nossa diretora, ela destaca os médicos para esse tipo de atendimento. Na Copa do Mundo a Medicina Legal teve uma importância muito grande participando na questão das manifestações, vamos atuar também nas olimpíadas. O IML hoje cumpre um papel social muito importante dentro da cadeia do sistema da sociedade.
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