Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação fala da violência sofrida pelas mulheres.

Não queremos flores

O filósofo Mário Sérgio Cortella afirma que a radicalidade é a reação à superficialidade, uma virtude em tempos de certezas medíocres e indefinições dissimuladas. No mês de março, recorro à necessidade de discutirmos, de maneira radical, o Dia Internacional da Mulher. É preciso voltar à origem dessa data e tratá-la, enfrentando as falsas certezas construídas em nossa sociedade.

Não queremos flores. Não queremos apenas "parabéns pelo dia"! Queremos que os motivos que levaram à existência dessa data deixem de existir em nossa sociedade. Os mesmos homens que nos felicitam pela data são aqueles que nos ameaçam, nos torturam psicologicamente e nos batem. Quem dá flores também mata!

Queremos que a hipocrisia de achar que evoluímos na questão de gênero seja substituída pelo reconhecimento de que a violência praticada contra a mulher é real, independentemente de classe social, de opção ideológica ou partidária, de raça ou de idade.

Há homens que ainda acham que têm o direito de impor relacionamento mesmo quando a mulher não quer. O que a mulher veste ou o seu comportamento social ainda justificam agressões morais e sexuais.

O ditado popular "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher" expõe que a violência praticada pelo companheiro é uma questão do casal, de ordem privada, e não da sociedade. A estabilidade econômica da mulher e a estabilidade emocional dos filhos são utilizadas como chantagem para a manutenção do relacionamento e para o aprisionamento psicológico da esposa ou da companheira. Mulheres continuam morrendo quando querem dar um basta a esse controle.

Os policiais que atendem a ocorrências de conflitos domésticos não estão preparados para lidar com a situação e identificar a fragilidade em que se encontra a mulher. As delegacias especializadas, com poucas exceções, não têm atuação intersetorial para oferecer à mulher, quando esta tem a coragem de procurá-las, a proteção e o acompanhamento necessários. Há lentidão nas medidas protetivas, e elas, muitas vezes, não intimidam o homem, que continua presente na vida da mulher, ameaçando-a. O assassinato de uma mulher por seu companheiro é uma tragédia anunciada com muita antecedência, e o poder público tem sido incapaz de impedi-lo.

A ideia de "lavar a honra" ainda está presente nas atitudes de violências física e moral praticadas contra a mulher.

A família, em nome da tranquilidade e da estabilidade emocional dos filhos, pressiona para que a mulher dê mais uma chance, porque o agressor está arrependido, tinha bebido muito e prometeu não praticar a violência novamente. Mas ele vai praticá-la, talvez com mais intensidade. Quem bate em mulher uma vez baterá novamente.

Queremos políticas públicas que modifiquem essa vergonhosa situação e que todas as formas de violência contra a mulher sejam banidas da nossa sociedade. Porque as flores não apagam as violências que sofremos!

 

BEATRIZ CERQUEIRA
Presidente da CUT/MG