Por falta de efetivo Detran de Juiz de Fora agenda exames de direção somente no período noturno.

Reprovação recorde em exames de CNH em Juiz de Fora

O índice de reprovação nos exames de direção veicular em Juiz de Fora alcançou a maior marca já registrada. No último mês, 81% dos 2.937 candidatos avaliados não passaram no teste de rua. Somente 571 alunos (19%) conseguiram conquistar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A cidade é uma das que detém as piores estatísticas de aprovação nos testes direcionais do estado. A média anterior ficava em torno de 24% a 26% de aprovação (ver quadro), mas, desde o início de abril, com marcação somente de exames noturnos, o desempenho dos inscritos caiu ainda mais. O atual índice levanta a discussão sobre a mudança recente e reacende o debate sobre o modelo de teste aplicado na cidade, sem padronização do que será cobrado no exame. As constantes reclamações de candidatos levaram à solicitação de audiência pública na Câmara Municipal para discussão do assunto. O encontro, pedido pelo vereador José Mansueto Fiorilo (PDT), vai ocorrer no próximo dia 28. "Queremos esclarecer o que tem acontecido em Juiz de Fora. As pessoas só conseguem passar no quarto, quinto exame. Alguma coisa está falhando. Ou o ensinamento está deficitário ou a forma de cobrança precisa ser revista", declarou o vereador.

O quadro atual preocupa também o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MG), em Belo Horizonte, que está verificando os índices de aprovação em todas as Circunscrições Regionais de Trânsito (Ciretrans). O objetivo, segundo a assessoria do Detran, é aperfeiçoar o sistema de avaliação em Minas, e, com isso, melhorar os percentuais, já que o baixo índice de aprovação nos exames de rua é comum em todo o estado. Em Belo Horizonte, de cada dez pessoas submetidas ao teste, somente três são aprovadas. Outras cidades do interior também apresentam percentual reduzido de candidatos aptos a conquistarem a habilitação.

Falhas

O especialista em trânsito e diretor de um centro de formação de condutores (CFC) em Juiz de Fora, Sebastião Pires de Camargos, é taxativo ao afirmar que o alto índice de reprovação no município expõe falhas diversas. Camargos também não descarta que exista uma cobrança exacerbada por parte dos avaliadores e que falte uma padronização nos exames.

"São vários os aspectos relacionados ao baixo índice de aprovação. O primeiro é que falta um critério padrão para a avaliação. Hoje cada examinador cobra uma coisa, com grau de exigência distinto. O segundo é que não há um local específico para as provas de rua, como existe para as motos. Se houvesse uma autopista, facilitaria. Não questionamos o fato de terem que enfrentar a realidade das ruas, mas as condições dos bairros onde são realizados os testes. O candidato precisa arrancar, dar marcha a ré em vias íngremes e esburacadas, sem iluminação. Outra questão é a presença de muitos curiosos no local das provas, o que contribui para deixar o lado psicológico do concorrente ainda mais afetado. Por último, outro quesito que afeta os índices é terem passado os exames apenas para os horários noturnos. O aluno tem obrigatoriedade de realizar apenas quatro das 20 aulas no período da noite, o que é muito pouco", elenca Camargos. "Tudo isso tem contribuído para que Juiz de Fora esteja num patamar tão ruim de aprovações. Isso precisa ser revisto urgentemente, o processo tem que ser reavaliado para melhorar para todos."

 

Despreparo para enfrentar o volante

A falta de preparo de candidatos é outro fator que influi diretamente no alto índice de reprovação nas ruas, segundo instrutores e autoridades. Para a delegada Cristiane Maciel, a exigência do Detran de 20 aulas de direção veicular é muito aquém do necessário para habilitar uma pessoa a conduzir um veículo.

"Para estar preparado de fato, o motorista tem que passar, no mínimo, por 45 aulas/hora. Entendo que os candidatos fiquem apavorados com os gastos e que queiram ir logo para o exame, para passar rápido, mas é por isso que tomam cinco, seis paus. Porque não estão preparados. Um concorrente com 20 aulas não passa, seja jovem, adulto, homem ou mulher, a não ser que tenha aprendido a dirigir desde cedo e dirija sem a carteira."

Instrutor de CFC, Joel da Silva, concorda. "O número de 20 aulas é muito pouco. O mínimo exigido deveria ser de 35 a 40 para o candidato estar seguro." Outro instrutor é enfático: "Cinquenta por cento dos candidatos não estão preparados no primeiro exame. Querem fazer as 20 aulas exigidas pelo Detran e irem para a prova, e não temos como impedi-los. O problema é que vão ser reprovados."

60% de aprovação

Pela Resolução 358 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), as autoescolas teriam que aprovar 60% nos testes teóricos e práticos sob pena de suspensão do credenciamento das instituições. Entretanto, a norma ainda não é cumprida no estado. Para a delegada Cristiane Maciel, "o índice é impraticável para os exames de rua com a exigência de somente 20 aulas. Autoescola nenhuma vai conseguir."

Diretor de CFC e especialista em trânsito, Sebastião Pires de Camargos, também defende a redução do índice. "Hoje, por todos os fatores que elencamos, está difícil uma autoescola atingir 30% de aprovação, 60% fica impossível."

Em evento no ano passado, em Juiz de Fora, o presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Minas Gerais, Rodrigo Fabiano da Silva, enfatizou que "o sucesso no exame não depende apenas da empresa. Muitas vezes, indicamos que o aluno faça mais aulas, mas ninguém pode obrigá-lo se já tiver atingido a carga horária obrigatória."

Entre os candidatos e instrutores de autoescola, a principal queixa é em relação à diferença de cobrança de um examinador para outro. "Os critérios são muito diferentes entre eles. Eu conheço muitos examinadores e oriento meus alunos, no dia da prova, para o que um ou outro pode pedir, mas tem cinco ou seis novos que ainda não conheço bem. O ideal era que houvesse mesmo uma padronização, pois o correto não é ensinar a fazer o exame para aprovação, mas sim ensinar a dirigir", comenta o instrutor Sílvio Neto.

Já outro instrutor, que prefere não ser identificado para evitar represálias a seus alunos, é ainda mais crítico. "Não há um padrão na avaliação, e aqui em Minas as provas ficam a cargo da Polícia Civil, diferente do Rio e São Paulo, onde já trabalhei. Portanto, fica mais complicado questionar a avaliação. O que tento fazer é pegar por base as exigências do examinador mais difícil para treinar meus alunos."

Prestes a fazer o quarto teste de rua, C., 33 anos, também concorda. "Uns ficam mais ligados nos pormenores, observam se você olhou para os lados, se sinalizou com os braços, se deu a seta. Outros querem ver se tem o domínio do carro. Você nunca sabe o que vão te cobrar. Recentemente, fiz o exame de moto e passei. A avaliação dentro de um circuito é mais fácil."

Para a delegada do Setor de Habilitação, Cristiane Maciel, a falta de padronização não é o motivo para a reprovação de tantas pessoas que buscam a CNH. "Primeiro é preciso destacar que não cobramos nada além da legislação de trânsito. Os candidatos têm que olhar, sim, no retrovisor, usar o cinto, dar seta, compreender a sinalização e conhecer as regras de circulação. Em segundo lugar, não é a falta de padronização – não sabemos nem se isso é possível – o motivo das reprovações. Os candidatos precisam estar preparados, mas têm que saber que estão suscetíveis a vários contratempos, como sinalização e iluminação precárias, chuvas, que atrapalham ainda mais o desempenho, pois, além de todos os quesitos que devem observar, precisam ficar preocupados em ligar o limpador e o desembaçador", explica a delegada.

"O índice na cidade sempre ficou em torno de 25% de aprovação. Só no mês passado caiu para 19% por conta dos exames noturnos, o que já era esperado. Mas essa foi uma decisão tomada para que os policiais cumprissem a carga horária obrigatória e realizassem os exames nos horários extras. O ideal era que tivessem exames diurnos e noturnos, mas uma nova alteração vai depender de estudo do novo delegado regional."

 

Critérios do teste em discussão

A precariedade das ruas onde acontecem os exames de direção também prejudica a desenvoltura dos candidatos. Na última semana, a Tribuna circulou por três locais de provas e encontrou situações críticas de infraestrutura. Buracos e deformidades no asfalto, sinalização horizontal apagada, como linha divisória de pistas e sinal de pare, além de iluminação insuficiente são realidades nos bairros Parque Guarani, Bandeirantes e Vivendas da Serra, todos na região Nordeste da cidade.

Para os futuros motoristas e instrutores, as piores situações estão no Monte Castelo e no Nova Era. "Os bairros não oferecem condições para a prática veicular. Há ruas de pedras, outras que são parte asfaltadas e parte sem asfalto, com deformidades que prejudicam o candidato, e sinalização ruim", comenta um instrutor, 38. "À noite, a dificuldade já é maior, e a iluminação nas áreas de exames não é suficiente", revela outro.

De acordo com a própria delegada, Cristiane Maciel, a situação das vias afeta o desempenho. "Já cansamos de oficiar a Prefeitura, solicitando a revitalização da sinalização e melhoria do asfalto, mas informam que as benfeitorias seguem cronograma preestabelecido. Isso interfere muito na prova dos candidatos."

Conforme a Secretaria de Comunicação da PJF, já foram realizadas melhorias em ruas do Bairro Vivendas da Serra. A informação é de que as vias nos demais bairros também passarão por intervenções da Secretaria de Obras.

Precariedade das ruas é problema

A precariedade das ruas onde acontecem os exames de direção também prejudica a desenvoltura dos candidatos. Na última semana, a Tribuna circulou por três locais de provas e encontrou situações críticas de infraestrutura. Buracos e deformidades no asfalto, sinalização horizontal apagada, como linha divisória de pistas e sinal de pare, além de iluminação insuficiente são realidades nos bairros Parque Guarani, Bandeirantes e Vivendas da Serra, todos na região Nordeste da cidade.
Para os futuros motoristas e instrutores, as piores situações estão no Monte Castelo e no Nova Era. "Os bairros não oferecem condições para a prática veicular. Há ruas de pedras, outras que são parte asfaltadas e parte sem asfalto, com deformidades que prejudicam o candidato, e sinalização ruim", comenta um instrutor, 38. "À noite, a dificuldade já é maior, e a iluminação nas áreas de exames não é suficiente", revela outro.
De acordo com a própria delegada, Cristiane Maciel, a situação das vias afeta o desempenho. "Já cansamos de oficiar a Prefeitura, solicitando a revitalização da sinalização e melhoria do asfalto, mas informam que as benfeitorias seguem cronograma preestabelecido. Isso interfere muito na prova dos candidatos."
Conforme a Secretaria de Comunicação da PJF, já foram realizadas  melhorias em ruas do Bairro Vivendas da Serra. A informação é de que as vias nos demais bairros também passarão por intervenções da Secretaria de Obras.

 

Fonte: Jornal Tribuna de Minas, 20 de maio de 2012