Polícia Militar repete tática contra manifestantes e garante festa na Savassi.

Polícia Militar repete tática contra manifestantes e garante festa na Savassi

Na segunda manifestação anti-Copa em Belo Horizonte desde o início do Mundial, a Polícia Militar conseguiu, mais uma vez, cercar os manifestantes e evitar tumultos ao se valer da tática do “envelopamento”. A exemplo do que ocorreu sábado, na Praça 7, Centro da cidade, a PM isolou, ontem, as cerca de 200 pessoas que participaram de ato público na Praça da Savassi, zona Sul da cidade, reduto de torcedores. Garantiu, assim, o clima de festa para milhares de pessoas que foram ao local assistir aos jogos.
 
Durante mais de seis horas, os manifestantes interditaram parte da avenida Getúlio Vargas, porém sem causar grandes transtornos. Não foram registrados confrontos ou boletins de ocorrência.
 
Sem muita alternativa, os manifestantes fizeram atos culturais e entoaram cantos contra a PM e a Fifa. A tática de envelopamento, ou, foi adotada pela primeira vez em 1986, durante uma manifestação na cidade alemã de Hamburgo, para inibir a ação de black blocs.
 
“É uma estratégia que deveria ter sido usada desde o ano passado. Em países de primeiro mundo, com democracias consolidadas, essa técnica já foi utilizada. Por enquanto, consideramos que ela tem sido um sucesso, mas ainda temos muita coisa pela frente”, avaliou o chefe de comunicação da Polícia Militar, tenente-coronel Alberto Luiz.
 
OUTRO LADO
 
A forma de atuação da PM foi classificada pelos manifestantes como cerceamento de direitos. 
 
“Só o fato de ter milhares de policiais nos cercando e evitando que possamos nos mover já é uma evidência de Estado de exceção. Isso preocupa porque abre precedente para a adoção do mesmo comportamento após a Copa”, observou o integrante da Assembleia Popular Horizontal (APH), André Veloso.
 
Ao todo, de acordo com a APH, cerca de 300 pessoas participaram do protesto na Savassi. Segundo a PM, no máximo, 200. Baixa adesão que é vista pelos organizadores como reflexo da atuação da polícia. “A construção do medo e a repressão estão sendo feitos há muito tempo. A população que sairia (de casa) resolveu não sair porque tem receio da reação da polícia”, pondera Veloso.
 
Durante as mais de seis horas que os manifestantes permaneceram na Savassi, teve até futebol no meio da avenida, além de apresentações artísticas. Eventos que, para alguns estrangeiros, foram um contraste diante de tamanha força policial. 
“Essa quantidade de militares é desnecessária para algo desse tipo. Revela a dicotomia entre a busca pelo diálogo e a cultura da repressão”, avaliou a estudante venezuelana Patrícia Cebreiros, de 23 anos.
 
TENSÂO
 
O clima só ficou tenso por volta das 18h, quando os manifestantes saíram do bloqueio feito pela PM e seguiram para a avenida Cristóvão Colombo, rumo à Praça da Liberdade. Porém, na esquina com rua Tomé de Souza, um quarteirão adiante, foram novamente cercados pela Polícia Militar. Houve negociação para que o grupo voltasse à Praça da Savassi. A partir daí, os manifestantes dispersaram.
 
A Polícia Militar não informou quantos policiais participaram do esquema de segurança na Savassi. Apenas divulgou que, para a segurança durante a Copa, o efetivo de militares para a capital é de 13 mil militares.
 
SAIBA MAIS
 
Uso de máscara é oficialmente restrito
 
A lei que restringe o uso de máscaras nas manifestações entra em vigor no Estado hoje. A medida foi aprovada na Assembleia Legislativa e sancionada ontem pelo governador Alberto Pinto Coelho. Com o dispositivo legal, policiais poderão abordar suspeitos e exigir a identificação deles. Em caso de descumprimento, o infrator poderá ser preso e multado em até R$ 26 mil, além de ser monitorado em outros eventos. 
 
No entanto, para o tenente-coronel Alberto Luiz Alves, chefe da comunicação da PM, a nova lei “não muda nada”. “Ela deveria ser mais clara, objetiva e ampla. Não proíbe o uso de máscara, só dá brecha para a abordagem, o que já é feito hoje”, avalia.
 
Fonte: O Tempo