Paralisação
O coração de Belo Horizonte foi tomado ontem por cerca de 2.000 policiais civis. Com cartazes e faixas, eles lotaram a praça da Liberdade, onde realizaram uma assembleia, e, de lá, saíram em passeata até a praça Sete.
Na reunião, os manifestantes decidiram por uma paralisação, a partir da próxima terça-feira, em todas as delegacias do Estado. A categoria exige melhorias salariais, protesta contra as más condições de trabalho e pede a contratação de mais servidores.
Durante 48 horas, as unidades funcionarão em escala mínima, com apenas 30% dos profissionais de plantão. Segundo o Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindpol-MG), o Estado tem, atualmente, 8.000 servidores nos quadros da corporação – entre escrivães, investigadores, delegados e peritos.
A categoria reclama de um déficit de até 10 mil trabalhadores. Os policiais reclamam da precariedade das delegacias, principalmente no interior do Estado, onde estaria faltando até tinta para impressão.
“Tem lugar que o policial precisa gravar o boletim de ocorrência em CD, por falta de tinta”, disse o vice-presidente do Sindpol-MG, Antônio Marcos.
Caso não tenha as reivindicações atendidas até o próximo dia 29, a categoria promete paralisar as atividades por completo.
Protesto. Vestidos de preto, os policiais chamaram a atenção de quem passava pelo centro da cidade. Eles queimaram caixões que representavam “a morte da Polícia Civil mineira”.
A manifestação contou com servidores de unidades da capital e do interior, onde, segundo o Sindpol-MG, a situação é mais precária. Segundo o diretor regional da entidade no Norte de Minas, Emerson Mota Rocha, as delegacias da região estão sucateadas. Ele disse que, recentemente, uma viatura da Área Integrada de Segurança Pública de Montes Claros (Aisp 101) ficou inutilizada por uma semana, pois não havia dinheiro para um reparo no freio. “Assim, a gente não consegue apresentar um serviço de qualidade”, reclamou.
Outro lado. Ontem, a secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, informou que todas as reivindicações estão sendo analisadas. Segundo ela, porém, não há reajustes previstos no orçamento. “Não posso colocar no orçamento uma despesa não prevista para pessoal”.
Em nota, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que como a maior parte das reivindicações tem impacto direto no orçamento, elas têm sido alvo de uma avaliação técnica detalhada.
No Departamento de Investigações (DI), uma das principais unidades da Polícia Civil em Belo Horizonte, um cartaz colocado na portaria principal denunciava à população a situação dos servidores da segurança pública do Estado. “A Polícia Civil de Minas é uma das mais mal pagas do país. Sua segurança está em risco”, diz o texto também distribuído em panfletos pelo Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol-MG).
Na delegacia, os poucos policiais que ficaram de prontidão para atender à população disseram que a paralisação de advertência não prejudicou os serviços. Sem se identificar, eles confirmaram que alguns colegas deixaram o trabalho para engrossar o movimento na praça da Liberdade, ontem à tarde. “Como a manifestação foi planejada para uma sexta-feira à tarde, trouxe poucos prejuízos à população. Normalmente, não há muita procura por atendimento nesse horário”, afirmou um policial, que pediu para não ter o nome divulgado.
Já na 1ª Delegacia Distrital da Polícia Civil, no bairro Santa Tereza, apenas um funcionário ficou de plantão para atender a população. Segundo ele, não houve filas no local. Na portaria, o mesmo cartaz do Sindpol indicava o motivo da paralisação. (Magali Simone)