Mais uma nação livre da tirania e ditadura: Muamar Kadafi é capturado e morto por forças militares da Líbia.

Mais uma nação livre da tirania e ditadura: Muamar Kadafi é capturado e morto por forças militares da Líbia

SIRTE, Líbia – O Conselho Nacional de Transição (CNT) confirmou que o ex-ditador da Líbia Muamar Kadafi foi morto pelas forças do novo regime após ser atingido por uma bala na cabeça durante um tiroteio nesta quinta-feira (20) em Sirte, sua cidade natal. “Quando encontraram (Kadafi), ele estava bem de saúde e levava uma arma”, disse o chefe do executivo do CNT, Mahmoud Jibril em uma coletiva de imprensa em Trípoli. Jibril completou ainda que depois foi levado para uma pick up. “Quando o veículo arrancou, ficou no meio de um tiroteio entre combatentes pró-Kadhafi e revolucionários, e morreu após ser atingido na cabeça por um disparo”, completou.

Após divulgar a notícia esperada por tantos líbios, o CNT anunciou também que em breve, no mais tardar nesta sexta-feira (21), proclamará a libertação da Líbia. “Felicito o povo líbio por este dia histórico e o convoco nesta ocasião para deixar de lado os rancores e a proclamar com uma só voz ‘Líbia, Líbia, Líbia'”, declarou o chefe executivo do organismo, Mahmud Jibril.

Enquanto milhares de líbios saíam às ruas de Benghazi, Misrata e Trípoli para festejar a morte de Kadafi, com disparos para o ar, buzinaços e dançando de alegria, líderes ocidentais saudaram o fim da guerra na Líbia com a morte do ditador.

A AFP obteve e difundiu uma foto de Kadafi, de 69 anos, tirada por um combatente e na qual se via seu rosto coberto de sangue. A imagem foi capturada com um celular. “Kadafi foi preso. Está gravemente ferido, mas ainda respira”, declarou na ocasião Mohamed Leith, comandante das forças do novo regime à AFP.

Um vídeo difundido por televisões árabes posteriormente mostrou um Kadafi ensanguentado e ainda com vida e caminhando, enquanto era levado aos empurrões pelos combatentes do novo regime que o prenderam aparentemente dentro de uma manilha.

Os milicianos cercavam o líder derrubado, que sangrava na cabeça, no rosto e nos ombros. Um combatente parecia apontar uma pistola contra a cabeça do ditador, segundo o vídeo difundido pela Al Jazeera e Al Arabia.

Kadafi havia se refugiado em Sirte depois da queda de Trípoli, em 23 de agosto, com suas últimas tropas leais, alguns de seus filhos e assessores. Em sua cidade, Kadafi, que governou a Líbia com mão de ferro durante 42 anos, resistiu durante mais de um mês. A guerra civil de 8 meses, que contou com a ajuda-chave da Otan, cobrou mais de 25.000 vidas.

Um dos filhos de Kadafi, Muatassim, também foi morto na mesma cidade, segundo Mohamed Leith, comandante das forças do novo regime. “Nós o encontramos morto. Colocamos seu corpo, assim como o de (ex-ministro da Defesa) Abubakr Yunes Jaber em uma ambulância para levá-los para Misrata”, acrescentou. O líder do CNT, Jibril, informou que outro filho de Kadafi, Saif al Islam, está cercado em uma aldeia próxima de Sirte.

“Ainda acontecem combates em Wadi al-Ater. Os revolucionários atacaram um comboio armado. Suspeitamos que Saif possa estar neste comboio”, indicou, referindo-se à última figura do regime deposto, considerado herdeiro político de seu pai. Seif al Islam é acusado de crimes contra a humanidade pela Corte Penal Internacional, que nesta quinta-feira voltou a insistir para que se entregue e enfrente a justiça.

Depois de dois messes de cerco, os homens fiéis a Kadafi se viram encurralados num bairro de Sirte, chamado Nº 2, de menos de 1 km².  A cidade costeira foi devastada pelos combates que deixaram dezenas de mortos desde que foram lançados pelas tropas da CNT em 15 de setembro. Nenhum edifício ficou intacto, inúmeras ruas estão totalmente inundadas e as estradas, obstruídas.

O ministro francês da Defesa, Gérard Longuet, anunciou que aviões franceses identificaram e pararam o comboio em que viajava Kadafi, mas esclareceu que este comboio não foi destruído pela intervenção francesa. Este comboio também teria sido atacado por um drone (avião sem piloto) americano, segundo o Pentágono.

Os principais líderes mundiais imediatamente expressaram seu desejo de que a morte do ex-homem forte líbio permita que a Líbia avence para um futuro pacífico e democrático. O primeiro comentário a respeito da morte do ditador foi do chefe do governo italiano, Silvio Berlusconi, ex-aliado de Kadafi. “A guerra acabou. ‘Sic transit gloria mundi’ (Assim passa a glória do mundo)”, comentou ‘il Cavalieri’, em latim.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou a morte de Kadafi marca “o final de um capítulo longo e doloroso para os líbios”, e pediu às novas autoridades de Trípoli que construam um país “democrático e tolerante”. “Os líbios têm, a partir de agora, a chance de poder determinar seu próprio destino em uma Líbia nova e democrática”, declarou.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por sua vez, disse que a notícia marca uma transição histórica para a Líbia. “Vamos reconhecer que isto é apenas o princípio do fim. O caminho pela frente para a Líbia e seu povo será difícil e cheio de desafios. Agora é o momento para que todos os líbios se unam. Este é um momento de reconstrução e de cura, para a generosidade de espírito, não de vingança”, disse o chefe da ONU.

Para o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, a morte de Kadafi põe fim a 42 anos de um reino de terror. “A Líbia pôde pôr um ponto final em um longo e sombrio capítulo de sua história, e virar a página”, enfatizou.

Já o presidente francês, Nicolas Sarkozy, um dos mais fervorosos patrocinadores da intervenção internacional na Líbia, saudou o “desaparecimento de Muamar Kadafi como um grande passo na libertação da Líbia”, enquanto o primeiro-ministro britânico David Cameron recordou as vítimas de Kadafi, a quem classificou de “ditador brutal”.

 

Fonte: Jornal Hoje Em Dia, 21 de outubro de 2011