Insegurança ronda a Savassi, e a PM quer ouvir população.

Insegurança ronda a Savassi, e a PM quer ouvir população

A revitalização da praça Diogo de Vasconcelos, conhecida como praça da Savassi, na região Centro-Sul da capital, completou dois anos neste mês, mas sem comemoração por parte de comerciantes e moradores. Muitos reclamam da violência, da falta de policiamento e da crescente presença de pessoas em situação de rua. A Polícia Militar (PM) vai montar nesta quinta uma estrutura no local para ouvir as queixas da população e promete intensificar o patrulhamento nos pontos mais críticos.

Nesta quarta, ao visitar o bairro, a reportagem flagrou um furto na praça, por volta das 13h. Uma mulher que almoçava na parte externa de uma lanchonete foi surpreendida por um ladrão, que levou o celular que estava sobre a mesa. O rapaz fugiu correndo e não foi preso.

Conforme o comandante da 4ª Companhia da PM, que atende à região, major Marcellus Machado, os crimes contra o patrimônio são os mais frequentes na Savassi, como furtos de celulares e arrombamento de carros. No entanto, ele garante que a violência está controlada no bairro, embora não revele o número de ocorrências.

Já a população diz que a sensação de insegurança aumentou muito desde que a praça foi revitalizada. “Cada dia cresce mais o número de mendigos e, entre eles, há bandidos infiltrados”, afirmou o comerciante Vander Elias Martins, 62, que há 30 anos atua no local. Ele disse que em frente ao seu comércio, moradores de rua montam pequenos barracos de papelão e alguns fazem ameaças. “Me sinto coagido a dar cigarro para não ter meu ponto destruído”, disse.

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Savassi estima que cerca de 200 pessoas em situação de rua estejam vivendo na região. “Segundo a própria polícia, cerca de 70% deles têm passagem criminal”, contou o diretor da entidade, Alessandro Runcini, que também é presidente da Associação de Moradores e Amigos da Savassi (Amas). Já a PM não confirma a informação.

Itinerante.A ação da PM é chamada de Comando de Companhia Itinerante, e uma primeira edição foi realizada na semana passada no bairro de Lourdes, também na região Centro-Sul. Cerca de dez policiais que atuam na parte administrativa da companhia estarão na praça, com mesas, computadores e formulários para registrar todas as críticas e sugestões. “Em vez de o cidadão se deslocar até o batalhão ou ligar no 190, por que a polícia não se desloca até ele?”, destacou o major Machado.

Ele disse que, com base nos relatos da população, a PM vai “potencializar a patrulha”. Ou seja, a equipe de militares permanecerá a mesma, porém, eles atuaram com foco nos pontos e horários citados pelos moradores como mais perigosos. “O militar já vai sair da companhia com atenção voltada para a ação. Se por acaso tiver uma loja que fecha mais tarde em determinado dia da semana, podemos ir até lá nessas ocasiões e fazer busca e apreensão na região para evitar crimes”.

Estrutura
Serviço
. A tenda da Polícia Militar estará montada das 14h às 20h, na praça da Savassi, no quarteirão da rua Antônio de Albuquerque. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) é parceira da ação.


Ações sociais e de segurança

Atuação. A Secretaria Municipal de Políticas Sociais informou que faz regularmente abordagens a pessoas em situação de rua para oferecer apoio, como pernoite em abrigos da prefeitura. Porém, o deslocamento desses moradores só é feito com o consentimento deles. Já quando há obstrução de via pública, como barracos de papelão armados nas calçadas, a prefeitura faz a retirada dos objetos.

Coletiva. A assessoria de imprensa da secretaria informou que dará nesta quinta uma coletiva à imprensa para falar sobre um plano de atuação voltado aos moradores de rua durante a Copa. A secretaria não adiantou como será a ação.

Segurança. O comandante da 4ª Companhia da PM, major Marcellus Machado, também disse que, durante a Copa, o policiamento na Savassi será reforçado com a presença de mais policiais. Mas ele não revelou o tamanho do efetivo.

Olho Vivo. O número de câmeras instaladas na Savassi não foi informado, mas a PM garantiu que todas estão funcionando.

Lojistas reclamam que viatura em praça fica sem policial

Desde que a praça da Savassi passou por revitalização, algumas cenas se tornaram rotina no local. Uma delas é ver pessoas tomando banho ou lavando roupas nas fontes d’água instaladas no espaço. Outra é a presença de uma viatura da Polícia Militar (PM) estacionada na praça, porém, sem militar no veículo ou por perto, conforme relatos de lojistas e pedestres. O comerciante Felipe Hofman, 27, contou que neste ano presenciou um furto em um ponto de ônibus do bairro e, ao correr à praça para acionar a polícia, encontrou a viatura vazia. “Falta policiamento aqui e em todo o Brasil”, afirmou Hofman.
 

O aposentado Márcio Barreto, 69, disse que já viu pessoas urinando na praça, sem que ninguém fizesse algo para coibir. “É muito descaso. Hoje, fico inseguro de passear com minha família pelo bairro”, relatou.

O comandante da 4ª Companhia da PM, que atende à região, major Marcellus Machado, disse que sempre que uma viatura estaciona na praça, há policiais por perto fazendo atendimento à população. A orientação, segundo ele, é parar a viatura e fazer rondas a pé pelo bairro. Ele informou também que, quando alguém é visto tomando banho em praça pública, a PM faz um trabalho social de abordar e orientar o cidadão.

Para Luis Flávio Sapori, professor do curso de Ciências Sociais e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Segurança Pública (Cepesp) da PUC Minas, a medida que será realizada hoje é improdutiva. “Não acho que essa seja a melhor solução. A criação de um conselho comunitário local, com moradores e lojistas, surtiria mais efeito. Me parece uma medida burocrática. Como se fosse um escritório de reclamações”.

Fonte: O Tempo