Início do ano registra aumento de homicídios em Uberlândia
A disparada da violência no município de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, já fez pelo menos 35 vítimas nos dois primeiros meses deste ano. O número de homicídios em janeiro e fevereiro de 2012 foi 34,6% maior que o montante registrado no mesmo período do ano passado, quando 26 mortes foram notificadas. Quando a média dos dois meses deste ano é comparada à de todo 2011, também há um crescimento, de 15 para 17 mortes por mês.
O aumento da violência tem se mostrado uma tendência no município, já que o ano de 2011 foi o maior em número de assassinatos dos últimos oito anos. De 2010 para 2011, o número de homicídios foi de 147 para 187, aumento de 27,2%. De acordo com os dados divulgados pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), entre 2004 e 2011, o número de homicídios teve um aumento de 104% na cidade. A secretaria estadual registrou 69 assassinatos em 2004 e 141 em 2011.
A justificativa dos representantes da polícia local para a escalada das mortes é a mesma do governo mineiro. De acordo com Samuel Barreto de Souza, delegado da Polícia Civil de Uberlândia, a maioria dos homicídios está relacionada ao tráfico de drogas.
"Mas a polícia vem atuando fortemente no combate ao tráfico nos últimos anos", afirmou.
Morador da cidade e integrante do programa Salva Vidas, que atua na recuperação de jovens dependentes químicos, Marcos Antônio Carmo confirma que o tráfico tem relação com grande parte dos crimes violentos em Uberlândia. "Temos trabalhado com cada vez mais jovens entre 12 a 17 anos. A maioria acaba se envolvendo em crimes", afirmou.
Medo. Quem sofre na prática com o aumento da violência é a população. O comerciante Damião Augusto dos Santos, 45, morador do bairro Tocantins, conta que pretende voltar ainda este ano para sua terra natal, no interior do Rio Grande do Norte. "Lá é bem mais tranquilo. Aqui, temos muita malandragem, viciado sempre rondando. Os jovens se envolvem com droga e começam a matar uns aos outros", disse.
Consultados, policiais militares de plantão nos batalhões da cidade confirmaram que as ocorrências de crimes violentos são quase diárias. Eles dizem ainda que, pelo início do ano, 2012 promete ser um ano violento.
Já a assessoria de imprensa da Seds não comentou o assunto e informou apenas que as estatísticas de Uberlândia referentes a janeiro e fevereiro devem ser divulgadas entre os dias 15 e 20 deste mês, conforme prometido pelo secretário de Estado de Defesa Social, Lafayette Andrada.
Na última quarta-feira, o governo estadual divulgou os dados do ano de 2011 sobre a criminalidade em todo o Estado e nas 29 cidades mineiras com mais de 100 mil habitantes após 13 meses de sigilo. Em Belo Horizonte, a taxa de homicídios para cada grupo de 100 mil pessoas entre 2010 e o ano passado foi de 25,1 para 30,6, número três vezes maior do que o considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). (Com Luciene Câmara)
Ranking
Escalada. Considerando as taxas de assassinatos para cada 100 mil habitantes divulgadas pelo governo, Uberlândia ocuparia a 14ª posição entre os 29 municípios mineiros com mais de
100 mil habitantes.
Os números divulgados pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) não batem com os dados da Polícia Civil de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Enquanto o governo afirma que a cidade teve 141 homicídios em 2011, a corporação diz que foram 187. O mesmo aconteceu em 2010, quando o Estado divulgou 114 homicídios, e polícia informou que foram 147.
Segundo a assessoria da Seds, os dados divulgados pelo governo levam em conta as ocorrências registradas pela Polícia Militar. Já o balanço da Polícia Civil se baseia nos inquéritos policiais, que demoram mais tempo para serem concluídos e, por isso, apresentam mortes que, muitas vezes, ocorreram após o crime, como no caso de vítimas que são levadas para hospitais.
Sem crime. Ontem, O TEMPO mostrou que a lista de cidades que o Estado divulgou como sem crimes violentos em 2011, não condizia com a realidade. Um levantamento junto aos batalhões da PM de dez dos municípios mostrou que houve homicídios e outros crimes. (JS/LC)
Fonte: Jornal O Tempo, 4 de março de 2012