Violência tira o sossego de cidades do interior de Minas
Barbacena. Andar pela rua despreocupado, sair de madrugada sozinho, deixar a porta de casa aberta, conversar na calçada até altas horas da noite e brincar no meio da rua. Essa é uma realidade atribuída a municípios do interior de Minas, mas que vem perdendo espaço, gradativamente, para a violência. Em 2011, cerca de 90% das cidades mineiras – 762 das 853 – tiveram registros de crimes como roubos, estupros e homicídios.
Barbacena, no Campo das Vertentes, é um dos exemplos de como a criminalidade vem "roubando" seus ares de tranquilidade. O primeiro indício está nas fachadas de muitas casas, que deixaram na memória os muros baixos e portões de trinco em troca de barreiras capazes de impedir a entrada de assaltantes. Grades nas janelas, muros altos e sistemas de segurança como alarme e cerca elétrica passaram a compor a "decoração".
É o caso da residência da pedagoga Neide Rodrigues, 45. Na tentativa de dificultar a entrada de ladrões, ela colocou cerca elétrica, portão eletrônico e alarme. "Ainda assim, não sinto que minha família está protegida. Nos tornamos prisioneiros em casa. Já tentaram arrombar o portão duas vezes", disse.
Barbacena registrou o maior aumento na taxa de homicídios em Minas, no ano passado, para cada grupo de 100 mil habitantes. Em 2011, foram 12 assassinatos contra quatro em 2010, 200% a mais.
Entre os moradores, o sentimento de insegurança aumentou. "Já me levaram R$ 5.000 dentro de casa, e a amiga da minha filha foi assaltada na minha porta. Como vamos nos sentir seguros desse jeito?", questionou a dona de casa Regina Silveira, 59. Quem nasceu na cidade e viu a evolução da criminalidade não se conforma em viver diante de tantas ameaças. "Barbacena mudou muito, a violência tomou conta da cidade. Todo dia tem uma confusão no meu bairro, não dá pra sair de casa sozinha mais", disse a doméstica Renata Cristina, 24.
Na avaliação do delegado da Polícia Civil de Barbacena, Eduardo de Azevedo Moura, a cidade "tem de tudo": crimes passionais, adolescentes infratores e tráfico de drogas. "Nossa prioridade é combater os casos que envolvem drogas porque representam um risco maior", afirma.
Segundo o delegado, o desafio da polícia de Barbacena é melhorar a sensação de segurança. "Precisamos reduzir os crimes violentos. Para isso, implantamos, no fim do ano, um banco de dados para relacionar a motivação dos crimes a seus autores", explicou Moura. No início deste ano, a cidade já registrou dois homicídios. No mesmo período de 2011, foram três.
Subnotificação
Furtos. A cidade chegou a registrar uma média de seis furtos por dia em residências no ano passado. Acredita-se, porém, que o número de crimes esteja subnotificado, pois há assaltos na zona rural.
"Na maioria das pequenas e médias cidades, você ainda tem uma estrutura policial muita escassa, sem produção de dados", disse. Segundo Sávio, é preciso investir no setor de inteligência da polícia para acompanhar o crescimento da violência. "O Estado é muito grande e tudo acaba ficando centralizado na região metropolitana", acrescentou.
Um policial civil de Barbacena, que pediu para não ser identificado, denunciou que a delegacia não tem condições nenhuma de investigar os homicídios da cidade. Para ele, a impunidade tem aumentado a violência na região. "O bandido sabe que a polícia é precária e não vai puni-lo. Chegamos a registrar 40 ocorrências por dia", disse.
O delegado da cidade, Eduardo Moura, admite a falta de efetivo em sua unidade de investigação, que fica na rodoviária. Já a parte administrativa fica no presídio. "Nossa meta neste ano é conseguir um lugar maior para juntar toda a polícia ", disse o delegado. (JS)
Quem iria imaginar que, em uma cidade do interior, um taxista seria assaltado cinco vezes? Foi o que aconteceu com Welisson dos Reis Moreira, 24, morador de Barbacena. No último assalto, há três meses, um casal levou até o tênis dele e o deixou amarrado com correntes na rua.
"Convivo com um medo terrível todos os dias quando o passageiro entra em meu carro. Mas não posso parar de trabalhar até conseguir outro emprego", disse Moreira.
Pelo menos outros quatro taxistas foram assaltados por um mesmo suspeito, preso no ano passado. Os motoristas tiveram reuniões com a PM para evitar novos casos. (JS)