SINDPOL/MG denuncia precária estrutura do serviço de perícia da PCMG.

Peritos criminais do Estado atuam "à base de prancheta"

"Temos uma perícia criminal que trabalha praticamente à base de prancheta, caneta e máquina fotográfica". Esse relato, de um servidor da Polícia Civil, expõe as condições de trabalho que os peritos do Instituto de Criminalística (IC) do Estado, departamento responsável pelo levantamento de provas científicas (como análises em locais onde ocorreram homicídios e acidentes de trânsito, por exemplo), estariam enfrentando. Profissionais ouvidos pela reportagem denunciam a carência de estrutura, o que compromete as investigações. Faltam alguns insumos e até motoristas para auxiliar nos trabalhos. As dificuldades se agravam no interior, onde os recursos são mais escassos.

De acordo com um perito com mais de 20 anos de carreira, que preferiu não se identificar, um dos principais problemas envolve o estoque da chamada Polícia Técnico-Científica. A demora na reposição dos materiais faz com que os investigadores trabalhem sem produtos básicos, como pós e reagentes químicos para a coleta de impressões digitais. "Se a pilha da lanterna acaba, precisamos colocar a mão no bolso para comprá-la. Senão, ficamos sem ter como trabalhar. É difícil porque tem dia em que tem material, no outro, não", afirma.

Já um representante de uma empresa fornecedora de equipamentos para a polícia de Minas conta que um aparelho para comparação balística foi adquirido por R$ 2 milhões, mas está encostado por ter apresentado defeito em uma peça. O instituto ainda não possui ferramentas importantes como câmaras de disparo e de vaporização, utilizadas para revelar impressões digitais. "Eles trabalham com uma estrutura muito precária e com poucos recursos tecnológicos", diz o representante, que pediu para ter a identidade preservada.

Um perito com quase 30 anos de atividade afirma que o Ministério da Justiça destinou 160 maletas providas de vários dispositivos para a Polícia Técnico-Científica mineira, mas poucas chegaram às mãos dos profissionais. Elas contêm lanternas com luzes especiais, trena a laser, óculos, máscaras de gás, pincéis, máquinas fotográficas e GPS. Ele prefere não ser identificado por temer retaliação.

O presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado (Sindpecri), Wilton Ribeiro de Sales, confirma os muitos problemas e diz que a solução seria um investimento maior em perícia. "O que nós buscamos é 20% do orçamento da Polícia Civil para a perícia e autonomia para nós mesmos administrarmos esse orçamento", afirma. Atualmente, segundo o sindicato, cerca de 1% da verba da corporação é destinada à criminalística.

Conforme o presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol), Denílson Martins, a falta de efetivo ainda é o principal problema do IC. "Temos 853 municípios e pouco mais de 400 peritos. Com essa carência, a resolução de crimes não chega a 6%".

 

Caso Bruno
Durante as investigações do desaparecimento e da morte da ex-namorada do goleiro Bruno Eliza Samudio, os peritos da Polícia Técnico-Científica de Minas precisaram pedir emprestado a uma empresa fornecedora diversos materiais, incluindo equipamentos para a coleta de impressões digitais, como pós, reagentes químicos e pincéis. Outro produto emprestado aos peritos foi o luminol, utilizado para identificar sangue lavado. Como ele é tóxico, os profissionais recorreram a um produto especial para tentar encontrar sangue humano nos cachorros de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Todos os servidores ouvidos pela reportagem, além do Sindpecri, confirmaram os empréstimos e afirmaram que não havia nenhum dos itens no estoque.
Investimentos
De acordo com o coordenador de perícia criminal, André Gomes, diversos investimentos estão previstos para a Polícia Técnico-Científica do Estado. Segundo ele, cerca de R$ 24 milhões serão empregados em equipamentos e reformas já a partir do ano que vem. O coordenador ainda informou que o projeto de uma nova sede para o Instituto de Criminalística (IC) já está em fase de licitação. O novo prédio será construído onde hoje é o Instituto Médico Legal (IML) da capital, no bairro Gameleira, na região Oeste. Gomes ainda reconheceu que a falta de profissionais é um problema enfrentado pela perícia e negou que a verba destinada ao setor seja baixa. Entretanto, o coordenador não soube informar de quanto o IC dispõe mensalmente.
Fonte: Jornal O Tempo, 3 de dezembro de 2012