Reflexão sobre dois momentos de duas instituições reivindicando valorização e dois comportamentos de servidores diversos
Ao ser intimado para audiência no Ministério Público da União, para ratificar denuncias de degradação do ambiente de trabalho e condições aviltantes e desumanas no IML-BH, pude deparar com uma situação inusitada que me remeteu a uma reflexão: o órgão em questão se encontrava em estado de greve, em atendimento em escala mínima. Um prédio muito bem montado, estruturado, revestido em mármore e granito, compatível com a dignidade do essencial serviço que representa na fiscalização e aplicação da lei “custus legis”, salas amplas, elevadores de ultima geração, com identificação magnética, digital para restringir o acesso de pessoas não autorizadas, garantindo a segurança e integridade dos trabalhadores e usuários do prédio, além de mobiliário projetado à necessidade do trabalho e todo aparato e logística adequados para o bom desempenho do serviço. Lá, pude encontrar dezenas de cartazes afixados na fechada externa, nas paredes e até no interior dos elevadores com os dizeres: ‘ESTAMOS EM GREVE!”. Ao indagar aos vigilantes contratados alis prostrados, há quanto tempo os cartazes estão afixados e se alguém havia cogitado a retirada dos mesmos, a resposta foi: “Dr. Isso está aí há mais ou menos 15 dias, e ninguém é doido de tirar”.
Esta situação de pronto me remeteu a uma reflexão, no ano passado a nossa categoria Polícia Civil, juntamente com outras do serviço público estadual, esteve em greve por longos 70 dias, a primeira reação de nossas chefias, principalmente delegados e inspetores, com raras exceções, foi a de mostrar para a sociedade uma falsa realidade e uma informação inverídica e falaciosa de que a greve não existia, para tanto, ordenavam operações improvisadas e rondas bancárias ostensivas para maquiar uma falsa operacionalidade, sem falar no abuso de determinarem a retirada imediata dos cartazes, um verdadeiro crime contra a liberdade de expressão, fato que causou grande prejuízo ao sindicato. É importante relembrar que naquele mesmo momento também estava em greve os servidores da Justiça de 1ª e 2ª instancia, e também usaram cartazes nas fachadas dos prédios, e ninguém determinou a retirada. O estranho é que dadas as condições sucateadas, depreciadas e insalubres de trabalho somadas a um salário de miséria que os policiais civis recebiam e ainda recebem (Pior Salário Do Brasil), haveria necessidade maior para justificar as razões de uma greve? O que dizer então da não paralisação de órgãos importantes como o Detran? Surpresa maior foi a que tive ao adentrar na sala de reunião, vi uma procuradora federal presidindo a audiência sem o auxílio importante de um escrivão ou digitador para reduzir a termo os depoimentos e lavratura da ata final. Vi aquela autoridade digitar os depoimentos sem qualquer queixume ou reclamação, e ao ser indagada, após o término da audiência, a mesma deu um testemunho de cidadania e consciência política, que não estava furando greve e sim atendendo em escala mínima, pois defende a legitimidade das reivindicações, porém, a proteção do ambiente de trabalho não pode parar, por isso a audiência agendada, mesmo em período de greve, seria realizada e na ausência de escrivão, que se digite o procurador.
Os fatos acima relatados não são mera ficção, trata-se de um ocorrido real que deve servir de exemplo para todos nós servidores públicos que temos como nossos patrões os contribuintes e nossos chefes não podem e nem devem maquiar situações que levariam as instituições a um sucateamento crônico que muito além de prejuízo institucional, prejudicam a sociedade. Quem defende a valorização do serviço público em qualquer de suas esferas não o faz apenas pensando em salário, mas sim no fortalecimento da estrutura orgânica, na valorização do trabalho e na melhor prestação do serviço à sociedade. Talvez se a Polícia Civil e seus dirigentes tivessem acordado há mais tempo e adotado a mesma postura dos membros e servidores do MP, hoje nossas instalações seriam melhores, a efetividade de nossa ação seria mais presente e perceptível, teríamos mais autonomia para o desempenho de nossas funções, teríamos melhores salários e condições de trabalho, enfim, saberíamos reivindicar melhor e seríamos sim uma instituição forte e valorizada de fato.
Ao sair do prédio, pude prestar mais atenção nos cartazes e faixas afixados no exterior e uma faixa me chamou muita atenção: “A QUEM INTERESSA O SUCATEAMENTO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO? SOMENTE AOS CORRUPTOS!” Achei corajosa e profundamente altruísta a atitude destes servidores, pois não só defendem sua instituição, seus empregos, seus salários, mas sim a cidadania e a Res’pública. Talvez uma indagação semelhante a esta também coubesse harmonicamente para a atual situação da PCMG “A QUEM INTERESSA O SUCATEAMENTO DA POLÍCIA CIVIL? SOMENTE AOS CRIMINOSOS E CORRUPTOS”.
Que a nossa gloriosa Polícia Civil tão importante quanto o MP, PF, Poder Judiciário, dentre outras aprenda que reivindicar por valorização é também uma forma de vestir a camisa da dignidade e declarar amor por uma instituição