Rebelião expõe superlotação em prisões de Minas
Um grupo de 90 presos se rebelou, ontem, na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na região metropolitana. Eles passaram o dia no telhado, encapuzados e empunhando pedaços de ferro. Os detentos protestavam contra supostas mudanças na visita de mulheres grávidas e de agressões que seriam praticadas por agentes penitenciários. Eles ainda pediam mudanças na direção do presídio. A ação começou às 9h, no pavilhão 1, depois que um agente e uma professora foram rendidos. No fim da tarde, água e luz foram cortados – o almoço e o lanche não foram servidos. Mas até 0h30, a ação não havia sido controlada.
A rebelião se concentrou no pavilhão onde ficam presos de menor periculosidade, envolvidos com o tráfico. No pátio, eles usaram lençóis para escrever as palavras "opressão" e "sistema". Lençóis e colchões foram queimados, e os bombeiros precisaram conter as chamas.
Um estrondo foi ouvido do lado de fora da penitenciária. A Polícia Militar negou que foram tiros e disse que o barulho veio de bombas de efeito moral, usadas para tentar evitar que mais presos subissem no telhado. A informação de que eles estariam armados não foi confirmada. Um gabinete de emergência foi montado na penitenciária. Além de autoridades, 200 policiais foram mobilizados, bem como um helicóptero e reforço de agentes de outras unidades.
Ação. Segundo o subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade, eles tamparam as câmeras de vigilância da sala onde acontecem as aulas do ensino regular e se aproveitaram de uma distração da segurança. "Foi uma questão de oportunidade. Um deslize do agente. A professora estava na sala, e eles renderam primeiro o agente e depois a professora", contou.
Em seguida, eles ligaram para uma emissora de rádio da capital e pediram que a imprensa fosse acionada. Além disso, eles exigiram a presença do deputado Durval Ângelo, presidente da Comissão de Direitos Humanos, de um defensor público e de um juiz da Vara de Execuções Criminais.
Detentos do pavilhão 6 chegaram a ensaiar uma ação parecida, mas foram contidos rapidamente.
Murilo Andrade contesta a motivação dos detentos. Ele nega que haja violência por parte dos agentes ou qualquer tipo de proibição de visita. Segundo ele, o que houve foi uma mudança de procedimentos. Pelo modelo antigo, grávidas podiam seguir direto para pavilhões, sem passar por revista ou por aparelho de raio X, o que estaria facilitando a entrada de drogas e celulares. "No sistema atual, as visitas acontecem em uma sala e são monitoradas por um assistente social. Foi uma medida adotada para melhorar o conforto delas", afirmou.
`Opressão´
No fim da noite de ontem, criminosos atearam fogo em um ônibus da linha 4501 (Califórnia II), no Anel Rodoviário, no sentido Vitória, na altura do bairro Califórnia, na região Noroeste de Belo Horizonte. A suspeita é que a ordem tenha saído de dentro da Penitenciária Nelson Hungria.
Segundo o sargento Wellington Souza, os dois homens estavam armados e esperavam no ponto de ônibus. Quando o coletivo parou, eles ordenaram que o motorista, o cobrador e a única passageira descessem. Os criminosos jogaram gasolina no ônibus e atearam fogo.
Antes de irem embora, eles entregaram um bilhete às vítimas que dizia "opressão", mesma palavra escrita com lençóis pelos rebelados na Nelson Hungria. Um deles teria dito ainda que já havia sido preso.
Os bandidos fugiram à pé. O trânsito foi interrompido no local.