Pelo menos 300 homens da tropa de choque da Polícia Militar e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) foram deslocados ontem para o cumprimento da ordem judicial de despejo de 350 famílias que ocuparam o terreno da Prefeitura de Belo Horizonte na Vila Santa Rita, no Barreiro. Durante a ação, militares usaram cães, helicóptero e até o "caveirão", blindado utilizado em ações de alto risco da PM. Até 21h de ontem, as negociações para a saída dos ocupantes ainda não haviam terminado.
A liminar de reintegração de posse foi emitida no último dia 26 de abril pela juíza Luzia Divina de Paula Peixôto, da 6ª Vara de Feitos da Fazenda Pública Municipal, após um pedido da Procuradoria do Município. O grupo ocupou a área de 35 mil m² , no mês passado, montando um acampamento com lonas e pedaços de madeira. No entanto, a prefeitura alegou que o terreno é uma área pública de proteção ambiental.
Operação. No início da manhã de ontem, a polícia tentou negociar com as famílias mas, sem acordo, ocupou o acampamento para que os funcionários da Serviço de Limpeza Urbana (SLU) retirassem as barracas montadas no local. Algumas pessoas aceitaram sair com seus pertences, mas a maioria dos ocupantes permaneceu durante todo o dia, em um ato de resistência. As famílias se recusavam a ir para os abrigos da prefeitura. Por volta das 8h, a PM interditou todas as ruas que davam acesso à ocupação. "Nunca vi uma operação desse porte. Até um caveirão eles trouxeram", destacou o Frei Gilvander Luís Moreira, da Pastoral da Terra, que representava os ocupantes na negociação.
O comandante do Gate, tenente-coronel Marcelo Correa, afirmou que foi utilizado o aparato necessário, mas não quis confirmar o número exato de policiais.
O terreno ocupado fica atrás de duas áreas invadidas em 2008, onde moram 277 famílias das comunidades Camilo Torres e Irmã Dorothy, que já construíram casas de tijolos. Os moradores fizeram manifestações para tentar impedir a saída dos novos vizinhos. Pneus foram queimados e houve um início de confronto com a Polícia Militar quando alguns manifestantes tentaram furar o bloqueio da cavalaria que dava acesso ao acampamento.
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (Conedh) informou que foi avisado da operação na noite anterior, por meio de uma carta. Membros da ocupação disseram que os policiais agiram de forma truculenta e com violência. Os militares negam qualquer abuso de força.
No fim da manhã, após os policias tomarem o acampamento para retirar as barracas, deputados e membros do conselho chegaram ao terreno para garantir a segurança das famílias.
Perfil. De acordo com o líder do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Famílias (MLB), Leonardo Péricles, entre os ocupantes da área estão ex-moradores de rua e pessoas que moravam em casa de parentes ou foram despejados.
"Esse lugar estava sendo ocupado por traficantes, e a prefeitura não comprovou a posse", afirmou.
Fonte: Jornal O Tempo
Disponível em 15/04/2012: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=203268,OTE&busca=%22Caveir%E3o%22&pagina=1