Os Sindicatos e as eleições: Centrais sindicais estão divididas no apoio a candidatos.

Os Sindicatos e as eleições: Centrais sindicais estão divididas no apoio a candidatosBeatriz Cerqueira_Ricardo Barbosa_ALMG

Para Beatriz Cerqueira, a CUT não apoiará nenhuma candidatura tucana
 
A disputa pelo apoio das centrais sindicais e movimentos sociais instiga candidatos a expor um modelo sindical considerado arcaico, mas capaz de decidir o futuro do país nas urnas. Dispostas a influenciar as eleições levando a disputa para um possível segundo turno, acenam com a pauta trabalhista como moeda de troca aos postulantes ao Palácio do Planalto. O mesmo vale para pretendentes ao Palácio Tiradentes. 
 
O compromisso de atender essas reivindicações pode assegurar a vitória nas urnas, tendo em conta que o movimento sindical busca a sintonia com as ruas, como ocorreu nas Jornadas de Junho durante a Copa das Confederações em 2013. Dependentes do financiamento privado de campanhas, partidos e comitês passam o chapéu no meio empresarial ao mesmo tempo em que costuram alianças com líderes sindicais que se traduzam em votos.
 
Para o conjunto das centrais, o desenvolvimento do país precisa ser sustentável e favorecer a distribuição da renda e da riqueza. Candidaturas do PT terão o beneplácito da Central Única dos Trabalhadores (CUT), mesmo sem o apoio a essas reivindicações. Regra seguida pela Força Sindical ao se aproximar do senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB que deve disputar a Presidência da República. 
 
Já o governador Eduardo Campos (PSB-PE), tenta atrair sindicatos para sua candidatura a presidente. O PSB conta com dirigentes nacionais da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), controlada pelo PCdoB. A estratégia dele, segundo sindicalistas, é garantir o apoio maciço da CTB, evitar que a União Geral dos Trabalhadores (UGT) apoie a reeleição de Dilma (PT) e conquistar a simpatia da CUT.
 
Vice-presidente nacional da UGT, o deputado federal Ademir Camilo (PROS) considera que a meta comum é abrir uma frente em busca de profundas modificações na sociedade, admitindo que há necessidade de um novo ciclo histórico ofensivo no movimento sindical.
 
“A tendência é apoiar Aécio Neves presidente, mas antes é preciso conhecer os projetos dos candidatos”, disse o presidente da Força Sindical em Minas, Luiz Carlos Miranda. 
 

Na quarta-feira, ele comandou a primeira reunião para tratar das eleições. O que se viu foi uma central dividida. “As centrais sindicais terão um peso muito forte nessas eleições”, prevê o membro da direção nacional do Solidariedade (SDD) e presidente da sigla no Estado. 

 

Luiz Carlos Miranda_Guilherme DadanhanALMG

Força quer sabatinar candidatos a governador
 
A Força Sindical pretende ouvir todos os candidatos ao Governo de Minas, disse o presidente da Central e do SDD no Estado, Luiz Carlos Miranda. “Não existe correia de transmissão na Força. O processo vai ser debatido com todos os pretendentes”. 
 
Ele já foi procurado por Dinis Pinheiro (PP), presidente da Assembleia Legislativa, que deve compor a chapa tucana como candidato a vice-governador. “Os outros candidatos ainda não nos procuraram”. 
 
Um dirigente pediu o anonimato para dizer: “não fechamos nada, só parte da Força se uniu ao PSDB. Quem manda é o Paulinho, todo mundo sabe. Mas, faltando três dias para a eleição, ele pula pro lado da Dilma. O Paulinho não fica com o Aécio, pode compor com o Eduardo Campos e a Marina Silva”. 
 
Segundo Miranda, em alguns estados, a decisão sobre qual candidato apoiar não virá da executiva nacional, será das lideranças estaduais. “Se depender de mim, vou trabalhar para o Aécio”.
 
Para ele, o descrédito dos partidos torna os sindicatos a bola da vez no pleito eleitoral. “É preciso profissionalizar e qualificar esse movimento. A organização sindical se espalha por todos os segmentos. Partido e OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não mobilizam ninguém, mas cada sindicato tem pelo menos 30 dirigentes mobilizados diuturnamente”. 
 
O vice-presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Silas Batista, defende uma vigília no Congresso Nacional para assegurar direitos. “As bandeiras de luta das centrais sindicais são quase as mesmas”. Segundo ele, a NCST é apartidária, mas respeita o envolvimento e o comprometimento político de cada representante sindical. 
 
Movimento sindical retomará ação política em protestos de rua 
 
O metalúrgico Gelson Alves da Silva, diretor da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) em Minas Gerais, aposta que as entidades sindicais terão peso decisivo nessas eleições. “Os trabalhadores organizados estão atentos às questões políticas. A pauta dos trabalhadores está voltando às ruas”, disse. Segundo ele, as centrais estão começando a discutir as candidaturas para uma definição futura sobre quem vão apoiar. 
 
“O movimento sindical apoiou Dilma em 2010. Temos de fazer a defesa do avanço dos direitos dos trabalhadores”, afirmou Alves. Nos dias 14 e 15 de fevereiro, a CTB tem agenda para discutir com os sindicatos filiados sobre as eleições. “Vamos multiplicar as discussões e incentivar a participação da base sindical nas eleições. Queremos fazer o debate amplo com os candidatos para levar a eles as propostas dos movimentos sociais”.
 
A Central Única dos Trabalhadores pretende promover debates com todos os candidatos ao governo do Estado, “mecanismo importante porque os partidos e os políticos pouco dialogam com os trabalhadores”, disse a professora Beatriz Cerqueira, presidente da CUT-MG e coordenadora do Sind-UTE. 
 
“Vamos pautar os temas que nos interessam, como em 2012, nas eleições para prefeito de Belo Horizonte”, disse. Beatriz compara as políticas públicas com indicadores sociais do Estado, para concluir que “o balanço das três gerações do ‘choque de gestão’ é negativa para os trabalhadores”.
 
Segundo a dirigente da CUT-MG, há uma tendência de criminalização e judicialização das demandas e lutas sociais no Estado, não só da pauta sindical. “Temos de fazer um balanço do que vivemos nestes 12 anos em Minas Gerais. Os governos do PSDB mantiveram uma relação muito ruim com o trabalhador. Foi assim no governo do presidente Fernando Henrique e nos dois mandatos de Aécio Neves”, afirmou. 
 

Em nível nacional, a CUT defende uma pauta construída pela maioria das centrais sindicais. “Temos de fazer um balanço do atendimento dessas reivindicações, e ver como entrarão nos programas dos candidatos. O PSDB não nos atenderia, haja vista a experiência dos governos FHC, Aécio e Anastasia”. 

Ademir Camilo
Dirigente da UGT, Ademir Camilo reitera que as centrais vão decidir o futuro Brasil nessas eleições

 
Metalúrgico vê descaso com agenda trabalhista 
 
Membro das executivas nacional e estadual da CSP-Conlutas Central Sindical e Popular, o metalúrgico Gilberto Antônio Gomes disse que discutirá a plataforma dos trabalhadores e programas de governo com os candidatos, tendo em vista as reivindicações das organizações sindicais e populares.
 
“Há desrespeito aos direitos trabalhistas, como a terceirização que precariza as relações do trabalho, proposta pelo deputado Eduardo Azeredo (PSDB)”. 
 
Na Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, a discussão ainda não foi aberta, frisou o presidente da CGTB em Minas Gerais, Marcelino Botelho, que diz apolítico e nega preferência por candidatos. “Não estamos falando em nomes, por enquanto”. 
 
Esta semana foi discutida a posição da CGTB nos Estados. “A executiva nacional vai ficar com a Dilma, embora ela não tenha atendido nossas reivindicações. Em Minas, não acredito que fique com Aécio. A opção será por Campos ou Marina”, arrisca o secretário geral Fábio Fialho Fortes. 
 
Ato unificado cobra promessas de Dilma
 
As centrais sindicais farão um ato unificado no dia 9 de abril em torno da pauta entregue à presidente Dilma Rousseff em 2013 que não avançou. Em destaque, a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. Em discussão na Câmara dos Deputados desde 1995, a PEC 231/95 está há cinco anos em condições de ser votada em primeiro turno pelo Plenário. 
 
Outras reivindicações são o fim do fator previdenciário e a regulamentação da negociação com os servidores públicos. Elas cobrarão audiência com a presidente para discutir os temas que a classe trabalhadora não abre mão.
 
O secretário geral da CUT, Sérgio Nobre, reafirmou a unidade da classe trabalhadora que, independente das eleições, manterá a pressão e a mobilização para que as propostas discutidas em 2013 tenham desdobramento.
 
Segundo ele, o momento é propício a uma avaliação sobre a conjuntura e para colocar na mesa as expectativas em relação ao próximo governo.
 
“Temos preocupação com a política econômica e industrial: não concordamos com o aumento de juros, não concordamos que o Brasil faça o inverso dos países mais desenvolvidos, importando produtos de alta tecnologia e exportando manufaturados. Esse cenário compromete o nosso desenvolvimento”.
 
Fonte: Hoje em Dia