No ano passado, pelo menos 17 roubos a residência desafiaram as polícias Civil e Militar.

O poder aquisitivo dos habitantes de Belo Horizonte explicita os contrastes existentes nos crimes que mais preocupam as regiões da cidade. Enquanto a zona Sul se vê diante do desafio de combater os constantes assaltos a residências, na outra ponta da pirâmide social, o desafio dos aglomerados é reduzir o número de homicídios. Levantamento feito pela reportagem de O TEMPO mostra que, de pelo menos 17 assaltos com reféns a residências no ano passado, dez foram na região Sul da cidade, em bairros nobres. Em contrapartida, os moradores das regiões mais pobres sofrem com os homicídios. O pano de fundo para a maioria das mortes, dizem os estudiosos, é o tráfico de drogas.

A especialista em segurança do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ludmila Ribeiro explica que os assaltantes preferem áreas nobres porque a possibilidade de lucro é maior. "Enquanto isso, as regiões pobres estão tomadas pelo tráfico de drogas e abandonadas pelo poder público", analisa. De acordo com a delegada Carolina Bechellane, do 1º Departamento de Polícia Civil – responsável pela região Sul da cidade -, os crimes são mais comuns nos bairros Mangabeiras, Belvedere e Santa Lúcia. "Os assaltantes procuram as pessoas de poder aquisitivo mais alto", diz.

A análise feita pela policial é evidenciada pela experiência vivida por um estudante de arquitetura, de 26 anos, que preferiu o anonimato. Ele teve a casa assaltada no ano passado. Morador do bairro Sion, o jovem teve um prejuízo de R$ 40 mil. "Quatro homens entraram no meu apartamento armados e levaram computador, televisão, DVD, dinheiro, equipamentos de vídeo e câmera", conta.

Assim como os assaltos a residência, os crimes de latrocínio – roubo seguido de morte – se concentram em bairros mais nobres, embora se dividam por regiões da cidade. Segundo a Polícia Militar (PM), em 2011 e 2012, dos 16 bairros que registraram os crimes, oito eram áreas nobres das regiões da Pampulha, Centro-Sul, Oeste, Leste e Noroeste.

Já nos aglomerados, o tráfico e os homicídios são os mais frequentes. Embora a polícia não divulgue dados absolutos em cada região, em dezembro do ano passado, um levantamento da corporação mostrou que os homicídios cresceram nas regiões Centro-Sul e Noroeste da capital. São justamente as áreas que concentram grandes favelas como a Vila Sumaré, a Pedreira Prado Lopes, o Morro do Papagaio e o Aglomerado da Serra.

"Mesmo sem dados, a gente sabe que 50% dos crimes estão relacionados a dívidas ou disputa por ponto de tráfico de drogas", disse o sociólogo do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) Robson Sávio.

Furtos. As regiões Noroeste e de Venda Nova são as campeãs em furtos de veículos, de acordo com a Polícia Civil. Foram 1.063 e 1.129 roubos de automóveis, respectivamente, nas regiões. "Muitos veículos de residências dessas regiões ficam nas ruas e próximos a vias rápidas, como o Anel Rodoviário, a Vilarinho e a Via Expressa, o que facilita a fuga dos criminosos", explica o delegado Adriano Assunção.

Morar em locais onde há maior incidência de roubos a veículos influencia no preço do seguro de carro. "Quem mora no Coração Eucarístico, por exemplo, paga mais caro pelo seguro", explica o corretor Thiago Vieira.
 

Crimes mudam de região com a ação da polícia

Alguns crimes mudam de região de acordo com a ação da polícia. Segundo o sociólogo e membro do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) Robson Sávio, quando os bandidos percebem que está havendo uma ação efetiva da polícia para combater determinado crime, começam a praticá-lo em outros locais. "Se os criminosos percebem que, por exemplo, o roubo de veículos está sendo bem-coibido em uma determinada região, tendem a ir para outra. Mas isso só acontece com o passar dos anos", explica.

O tenente-coronel André Leão, responsável pelo comando da Polícia Militar na região Noroeste e em parte da Pampulha, confirma a tese. "Às vezes, a gente registra um aumento e uma modalidade de crime e diminuição em outro, as saidinhas de banco são um exemplo", diz. (NO).

Fonte: Jornal O Tempo
http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=219745,OTE&busca=desafio&pagina=1