Atlas mostra que Estado foi o único da região que teve aumento de assassinatos em dez anos
Publicado por Bernardo Miranda, em O Tempo
Minas Gerais foi o único Estado da região Sudeste que não conseguiu reduzir o número de homicídios em dez anos. Entre 2004 e 2014, Minas Gerais apresentou uma alta de 10,3% nos assassinatos, passando de 4.244 para 4.682. Os dados são do Atlas da Violência 2016, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A alta nos homicídios em Minas está abaixo da média nacional, que apresentou um crescimento de 21,09%. Porém, o Estado está em um cenário contrário ao de seus vizinhos do Sudeste, que conseguiram reduções significativas nos assassinatos. Em São Paulo, os homicídios caíram 46% no período, no Rio de Janeiro, 28%, e no Espírito Santo, 1,3%.
Para o pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Robson Sávio, a alta dos crimes em Minas tem relação direta com a descontinuidade de políticas públicas que estavam sendo aplicadas, mas foram interrompidas. O Estado manteve uma redução no número de assassinatos de 2004 até 2010, quando as ocorrências voltaram a aumentar e chegaram a 2014 com índice superior ao de dez anos atrás. Sávio explica que, no primeiro mandato do governo Aécio Neves (PSDB), foram implantadas ações de prevenção e de gestão e integração nas polícias, que depois foram sendo abandonadas.
“No início do governo, essas ações, como a Integração da Gestão em Segurança Pública (Igesp) e o Fica Vivo, surtiram um grande efeito e reduziram os assassinatos. Porém, no fim do segundo mandato de Aécio e no governo Anastasia, o Igesp foi completamente sucateado, houve cortes nas ações de prevenção, e os homicídios voltaram a crescer”, destacou.
O pesquisador explicou que, como consequência da política de segurança pública em Minas, houve um crescimento de mais de 500% da população carcerária no Estado. Isso impactou o Orçamento da segurança pública e prejudicou as demais ações. “O sistema penitenciário ficou inchado e passou a consumir cada vez mais verba do Orçamento de segurança. Dessa forma, o governo deixou de investir nas demais ações, o que contribui para o aumento dos índices de criminalidade”, afirmou.
Ao contrário de Minas, São Paulo e Rio mantiveram ações de prevenção. No Rio, com isso ocorreram as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e investimentos em função da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Em São Paulo, houve uma repressão maior da polícia e investimento em investigação, que, assim como em Minas, geraram um aumento no sistema penitenciário.
O deputado estadual João Leite (PSDB), que acompanhou as políticas de segurança em Minas como aliado da gestão anterior, rebateu a crítica. “Não podemos fazer uma análise de um Estado e comparar com outro. São realidades distintas. O que é certo é que a União não faz o seu papel no combate ao tráfico de armas e de drogas, que impacta diretamente a violência”, afirmou.
Fonte: O Tempo