Médico-legista nega relação com grupo de extermínio

Cinco dias após ter sido liberado da Casa de Custódia da Polícia Civil, o médico-legista José Rafael Miranda Americano, 43, negou qualquer ligação com a atuação de um grupo de extermínio formado por policiais, no Vale do Aço, e classificou o envolvimento dele no inquérito que investiga 14 mortes na região – incluindo a do jornalista Rodrigo Neto e do fotógrafo Walgney Carvalho – como "um mal-entendido". Ontem, o advogado dele Ygor Miranda Myrrha, concedeu entrevista coletiva, na capital, em nome de seu cliente, já que o médico não quer aparecer para não ter a sua imagem relacionada ao caso. Myrrha contou que o depoimento de uma testemunha relacionou Americano à "Chacina de Revés de Belém" – mortes de quatro jovens após eles serem pegos com drogas, no distrito de Bom Jesus do Galho, que são atribuídas ao grupo de extermínio. "Uma testemunha disse ter reconhecido José Rafael na delegacia onde os meninos foram presos. Mas ele estava de plantão em um hospital da cidade e não tem nenhuma relação com esse crime", afirmou. Segundo Myrrha, o médico não conhece os outros quatro policiais civis que estão presos por suspeita de participação em crimes. "Ele vai à delegacia apenas quando o delegado convoca. Nunca viu esses policiais", disse. Formado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro da Polícia Civil há quatro anos, Americano teve seu inquérito arquivado, conforme informou o advogado. Ele teria ficado muito abalado com a prisão. Laudo. Ygor Myrrha ainda negou o envolvimento do médico com um suposto falso laudo usado para comprovar a tortura de policiais militares contra o soldador Natanael Alves de Abreu. Americano teria apenas validado o documento, produzido por outro profissional. "Ele apenas referendou o laudo. Não houve irregularidade". No início de 2012, Natanael afirmou que militares o torturaram. Um dia depois, o soldador negou a tortura e disse que foi obrigado por policiais civis a fazer a denúncia. Meses depois, ele foi assassinado. Investigação Mais prisões podem ocorrer nesta semana Apesar de, no último fim de semana, nenhuma prisão ter sido realizada em Ipatinga e em outras cidades do Vale do Aço, as investigações do Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP) ainda não terminaram, e novos mandados devem ser cumpridos. "A expectativa é de que prisões aconteçam a qualquer momento", afirmou o superintendente de investigações da Polícia Civil, delegado Jeferson Botelho. Quatro policiais civis estão detidos na Casa de Custódia da corporação, no bairro Horto, na região Leste de Belo Horizonte. Um policial militar preso em Lavras, no Sul de Minas, na última quinta-feira, foi trazido para a capital. A Polícia Militar não divulgou o local em que o suspeito está. O militar pode ser responsável por até 40 assassinatos cometidos no Vale do Aço. Já os outros agentes detidos podem ter ligação com 14 crimes investigados na região, incluindo as mortes do jornalista Rodrigo Neto e do fotógrafo Walgney Carvalho. Exame. A polícia aguarda o resultado de uma perícia em um revólver, apreendido na última semana, que pode ter sido usado na morte de Carvalho. (JHC) Fonte: O Tempo