Brasília. A chefe de gabinete do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), pediu exoneração do cargo, anteontem, por meio de carta. De acordo com o jornal "O Globo", Eliane Gonçalves Pinheiro teria ligação com o contraventor Carlos Augusto Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal (PF), em fevereiro, sob a acusação de comandar um esquema de jogo ilegal em Goiás.
Segundo as investigações, Eliane teria recebido informações de Cachoeira e avisou ao prefeito de Águas Lindas, Geraldo Messias (PP), que ele era alvo da Operação Apate, que investigou, em 2011, fraudes tributárias em prefeituras do interior goiano.
A funcionária negou envolvimento no vazamentos de informações. Na carta, disse que os telefonemas grampeados pela PF e o envolvimento dela na investigação estão errados, que ela foi "vítima de um grande equívoco": "Trata-se de outra pessoa. Nada tenho a temer", escreveu.
O governador admitiu conhecer Cachoeira e ter se encontrado com ele por três vezes em "reuniões festivas" – uma delas na casa do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Perillo disse, porém, não haver "relação do governo com atos ilícitos". "Eu nunca fui informado da relação de Eliane com o Cachoeira. Ela sempre me disse que se tratava de outra Eliane, uma advogada".
Uma das escutas mostra que Cachoeira e Eliane fizeram referência a "o maior", mas o grampo não deixa claro se a pessoa em questão era Marconi Perillo. O governador negou que fosse ele.
Apoio. Lideranças tucanas manifestaram apoio ao governador e disseram não aceitar "vazamentos seletivos". O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, telefonou, ontem, para Perillo. "Nós não podemos antecipar qualquer julgamento em relação a versões", afirmou o líder tucano, que, mais uma vez, criticou o que considera "vazamento seletivo orientado politicamente" das informações das investigações da PF.
O presidente nacional do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), também manifestou seu apoio. "Reiteramos, de maneira muito tranquila, a confiança no governador de Goiás", disse ele, afirmando que seu partido pedirá a investigação precisa de qualquer denúncia que envolva políticos filiados à sigla. "Uma funcionária (do governo de Goiás) está envolvida nessas fitas gravadas e nós estranhamos que a divulgação dessas fitas seja seletiva, sempre voltada para a oposição", afirmou.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu a atuação da PF. Ele negou que o vazamento tenha partido da instituição."Considero muito ruim que informações vazem. Mas garanto que não vazaram da Polícia Federal", disse.
Telefone
Grampo. Segundo a Polícia Federal, Eliane Pinheiro, assim como Demóstenes Torres e integrantes da quadrilha, tinha celular via rádio habilitado nos Estados Unidos para não ser grampeado.
Brasília. Grampos da Polícia Federal indicam que o prédio em que mora o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) em Brasília servia de ponto de encontro para reuniões da máfia dos caça-níqueis em Goiás e no Distrito Federal. Em conversas interceptadas pela Operação Monte Carlo, o sargento Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, apontado como um dos operadores de Carlinhos Cachoeira, relata uma reunião de integrantes do esquema no local.
Segundo o jornal "O Estado de S. Paulo", Dadá diz a Lenine Araújo de Souza segundo homem na hierarquia da organização que está no Bloco C da Quadra 309, na Asa Sul. Trata-se do bloco dos senadores, onde Demóstenes e outros parlamentares ocupam apartamentos funcionais cedidos pelo Senado.
Após a divulgação das novas gravações, senadores defenderam, ontem, que o Conselho de Ética da Casa investigue o encontro. "Após a Páscoa, vamos investigar tudo isso", afirmou o presidente do DEM, José Agripino (RN), ao classificar o caso Demóstenes que deixou, nesta terça, o partido como superado.
O advogado de Demóstenes, Antonio Carlos Almeida Castro, afirmou, ontem, que seu cliente deve viajar "para algum lugar tranquilo" para continuar preparando a defesa.
Brasília. Os deputados goianos Jovair Arantes (PTB), Sandes Júnior (PP), Carlos Alberto Leréia (PSDB) e Stepan Nercessian (PPS) também estão entre os citados nas gravações que apontam envolvimento com Carlinhos Cachoeira. Stepan afirmou que vai avaliar a possibilidade de renunciar ao mandato. "Não quero um mandato para me defender", disse ele, que admitiu ter recebido R$ 169 mil de Cachoeira.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski avalia se abre inquérito para investigar se houve irregularidades na relação dos deputados com Cachoeira.
Segundo o governador Marconi Perillo, qualquer outro servidor do Estado envolvido com irregularidades.
Brasília. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) afirmou que irá afastar os servidores de seus quadros que participaram do processo de liberação do registro da fazenda Gama, localizada nos arredores de Brasília, em abril do ano passado.
Gravações da Polícia Federal (PF) que foram feitas durante investigação de Carlinhos Cachoeira apontam que ele teria pago propina a servidores do Instituto para conseguir a liberação das terras. O relatório da PF menciona o envolvimento do superintendente do órgão no Distrito Federal, Marco Aurélio Bezerra da Rocha, com o grupo de Cachoeira.
Ontem, foi publicada no "Diário Oficial da União" a exoneração de Auro de Souza Arrais de seu cargo comissionado como chefe de Divisão. Ele fazia parte do quadro de pessoal da superintendência do Distrito Federal e Entorno, e está envolvido no processo de demarcação da área em que a fazenda está situada.
O Incra afirma que o afastamento de servidores será feito para permitir que "as investigações transcorram de maneira isenta", em nota divulgada ontem. Além disso, o órgão informou que abriu processo de sindicância investigativa e já pediu à PF cópia integral do inquérito.
"Desde setembro de 2011, a direção nacional da autarquia tem conhecimento da existência de processos de certificação de imóveis rurais com suspeitas de irregularidades no âmbito da Superintendência do Incra no Distrito Federal e Entorno", apontou o Incra, afirmando que está analisando o caso.
Imóvel
Fiscalização. Por meio de nota, o Incra informou que o imóvel citado em gravações da Polícia Federal não está mais acessível no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR), para fins de fiscalização cadastral.
Fonte: Jornal O Tempo
Disponível em: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=200111,OTE&busca=Escandalo%20chega%20aos%20tucanos&pagina=1