Lafayette Andrada nega saída da pasta da defesa
O secretário de Defesa Social, Lafayette Andrada (PSDB), negou na terça-feira (24), ao Hoje em Dia que vá deixar o cargo. Segundo ele, não existe crise na área e o governador Antonio Anastasia (PSDB) não o procurou para conversar sobre os rumos da pasta bem como os últimos episódios envolvendo as polícias. “Não sei, acho que fico. Hora nenhuma ele (o governador) não deu nenhum sinal”, afirmou, ao ser questionado se deixaria o cargo. Quando perguntado, porém, se queria permanecer, ele se limitou a dizer. “Estou pronto para servir ao governo”.
No início deste ano começaram a surgir especulações de que Andrada iria retornar à Assembleia Legislativa. Assumiria a liderança do Executivo no lugar do virtual candidato a prefeito de Uberlândia, deputado Luiz Humberto Carneiro (PSDB). As suspeitas cresceram, após incidentes envolvendo as polícias Militar e Civil, e culminaram com a troca do comando da Polícia Militar. Saiu o coronel Renato Vieira de Souza, comandante geral da PM. Em seu lugar, entrará o coronel Márcio Martins Sant’Ana. Também deixa o posto a Georgia Ribeiro Rocha, responsável pela integração entre as policiais. Andrada também anuncia que mais um quadro do alto escalão sairá. Desta vez, será Ronaldo Araújo Pedron. Ele irá trabalhar direto com o governador. “O que está acontecendo são trocas já previstas”, informou Andrada.
Segundo ele, a crise na Defesa Social, bem como a envolvendo as polícias, é artificial. “Estou procurando onde está a crise. Não existe”, completou. Andrada, que já enfrentou momentos de turbulência bem maiores – como a ação policial no Aglomerado da Serra, que resultou em duas mortes há um ano – disse que o governador não entrou em contato com ele para tratar da suposta crise na Defesa Social.
O secretário explicou que dois fatos geraram especulações. O primeiro, envolvendo um policial militar à paisana, que foi morto a tiros na porta de uma boate em Esmeraldas por policiais civis. No último fim de semana, foi a vez de um detetive ser baleado durante uma operação em Contagem. Em ambos os casos, existe a suspeita de atrito, envolvendo as duas corporações. Andrada nega e diz que são “episódios isolados”.
“O que falta é pulso firme dos comandantes para punir exemplarmente os policiais que são contra a integração”, acusou o deputado estadual Sargento Rodrigues (PDT). O secretário alegou que os casos já foram encaminhados à Corregedoria. “Preciso ter um processo de acordo com as normas de Direito. Não posso punir ninguém sem processo na Corregedoria. As pessoas têm direito de se defender”, rebateu.
Andrada disse que o modelo de integração das polícias em Minas é exemplo a ser seguido. “Com frequência recebo ligações de outros estados para conhecer o Igesp (Integração da Gestão da Segurança Pública)”, completou. Desde o primeiro ano de gestão do então governador Aécio Neves (PSDB), hoje senador, ocorre a integração das polícias. “No princípio, houve dificuldades”, afirmou. Pelo modelo, PM e Polícia Civil, além de Bombeiros e agentes penitenciários, devem atuar em conjunto. Antes de 2003, por exemplo, os militares não tinham acesso ao banco de dados dos civis. Se uma pessoa fosse abordada pela PM, poderia ser foragida, mas saía impune porque não havia meios de saber se ela tinha mandado de prisão expedido. Também foram criadas áreas de atuação, seguindo uma circunferência territorial.
Vereador Critica Secretário
O vereador cabo Júlio (PMDB) acionará, hoje, auxílio da Procuradoria-Geral de Justiça para acompanhar o caso do assassinato de um sargento da Polícia Militar em Esmeraldas, na Região Metropolitana. O crime teria sido cometido por policiais civis e, segundo o parlamentar, teria motivado o racha existente, hoje, entre as corporações. A intenção é pedir ao procurador Alceu Marques que tenha rigor na apuração dos fatos.
Cabo Júlio, aproveitou para questionar a afirmação do Secretário de Defesa Social, Lafayette Andrada (PSDB), que negou a existência de uma crise. Para ele, a relação entre as corporações é um “barril de pólvora”. “Se o secretário não sabe da crise, ele precisa trocar de óculos ou de secretaria. Só não vê quem não quer. O processo é complicado e exige esforço de todos”.
Segundo ele, existe hoje uma subsecretaria responsável por tratar do assunto, mas as divergências dificultam o trabalho. Houve, inclusive, recentemente uma troca no comando da pasta. Para amenizar o problema, Cabo Júlio defendeu a implantação de medidas imediatas que poderiam ajudar, como a unificação dos treinamentos e a melhoria na estrutura da Polícia Civil que, para ele, está abaixo do que é oferecido aos militares. “A Civil esta sucateada. Apoiamos as reivindicações. Mas não vamos aceitar que o problema gere interferência do trabalho da PM”.
Greve sem precedentes
Em 1997, durante a gestão do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB), hoje deputado federal, Minas enfrentou uma de suas crises mais agudas na área da Segurança Pública. Em vez de optar por uma negociação ampla com a Polícia Militar (PM), em greve por melhores salários, o tucano Azeredo baixou uma proposta única, que contemplava oficiais, em detrimento de soldados, cabos e sargentos.
Com essa estratégia, foi desencadeada uma das greves mais sangrentas da história do Estado, que resultou na morte de um policial em praça pública. Atingido por dois tiros em plena Praça da Liberdade, em frente a antiga sede do governo estadual, o cabo da PM, Valério Santos Oliveira, de 36 anos, sucumbiu enquanto tentava impedir a invasão do prédio do Comando Geral da PM por manifestantes.
Na época, o ex-soldado Wedson Campos Gomes foi apontado como autor dos disparos que executaram o colega de farda. Gomes foi condenado a oito anos de reclusão e ficou preso na Penitenciária Nelson Hungria, em Nova Contagem, na Grande BH, até o início de 2001, quando saiu da cadeia em liberdade condicional.
3 perguntas:
Existe crise no sistema de segurança?
Não sei onde está a crise. Estou procurando onde está. É muito artificial. Mias é padrão em integração. Com frequência recebo ligações de outros estados para conhecer o Igesp (Integração da Gestão de Segurança Pública). É referência no Brasil, são reuniões envolvendo policiais, prefeituras, colocando todos para discutir a questão da segurança pública. O modelo está encaminhando muito bem. As relações (entre as polícias) nunca estiveram tão boas. Não sei de onde veio esta crise.
E as trocas (no comando)?
O que está acontecendo são trocas já previstas. Hoje fiquei até triste quando vi os jornais. Há mais de três meses ele (Renato Vieira) havia avisado que ia se aposentar, fez 30 anos (de serviço). Saiu a Georgia, subsecretária de Integração, por questões pessoais, particulares. São coincidências. Vai sair outro semana que vem que é da Política Socioeducativa porque vai trabalhar direto com o governador, por um convite do governador. Tiveram dois episódios, um Esmeraldas, em que morreu um agente da Polícia Militar que estava à paisana na porta de um baile funk. Não tem nada de crise, foi um episódio isolado. Há uns dias a Polícia Civil foi cumprir um mandado de prisão, em Contagem, e morreu um investigador da polícia. É um episódio isolado. Hoje tem integração entre as polícias. O Boletim de Ocorrência é conjunto, eletrônico. Imediatamente cai no computador. Até 2003 não tinha isso. Houve dificuldade, sim, lá atrás. Isso, lá atrás. Hoje já está maduro.
O senhor vai sair da secretaria?
Não sei, acho que fico. Hora nenhuma ele (o governador) não deu nenhum sinal.
Fonte: Jornal Hoje Em dia, 25 de janeiro de 2012