Cidade tem recorde de mortes
O número de mortes violentas em Juiz de Fora este ano superou os casos registrados em 2011. Com mais homicídios no sábado e no domingo, a cidade bate recorde na escalada da violência, atingindo 54 ocorrências em pouco mais de oito meses, contra 52 em todo o ano passado. Em apenas três dias de setembro, o município já teve três novos mortos (ver quadro). Os dados, extraídos a partir de levantamento da Tribuna, diferem da estatística da Polícia Militar – que aponta para 34 casos-, já que a corporação contabiliza apenas os falecimentos ocorridos no local do crime.
Os dados do jornal também revelam que, pela primeira vez, a Zona Sudeste ultrapassou a Norte em quantidade de vítimas. Enquanto esta última, que reúne o maior número de bairros, teve 11 mortes, a Sudeste, que inclui bairros como Vila Olavo Costa, Vila Ideal, Grajaú e Jardim Esperança, entre outros, teve 14. Também chama atenção o modo como os crimes ocorreram. Em 33 dos 54 foram usadas armas de fogo. Os primeiros apontamentos indicam, ainda, que Vila Olavo Costa, JK e Santo Antônio estão entre as áreas nas quais há a maior quantidade de execuções, com pelo menos sete óbitos nestas características. Apesar de a PM considerar a quantidade de ocorrências pequena em relação ao tamanho da cidade, – 6,8 homicídios para cada grupo de cem mil habitantes -, a pesquisa do jornal aponta para a fragilidade das políticas de prevenção do crime na cidade, acuada, principalmente, pela ação das gangues.
O delegado chefe da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Paulo Sérgio Xavier Virtuoso, confirma a tendência de crescimento dos índices, embora não tivesse, ontem, dados atualizados a respeito dos homicídios em Juiz de Fora. Para o assessor de comunicação organizacional da 4ª Região da PM, major Sebastião Justino, apesar do crescimento de casos, Juiz de Fora ainda pode ser considerada uma cidade segura se comparada a outros municípios do mesmo porte. A média brasileira é de 25,7 homicídios para cada grupo de cem mil habitantes.
"Embora a PM não tenha meios de estar em todos os lugares, temos realizado trabalhos preventivos. Além do JCC (Jovens Construindo a Cidadania), do Proerd (Programa Educacional de Resistência às Drogas), da Patrulha na Escola e do grupo especializado no atendimento a crianças e adolescentes em situação de risco, estamos trabalhando na patrulha de prevenção de homicídios, com o acompanhamento dos autores e vítimas de ameaça e no contínuo monitoramento das gangues. Ainda estamos desenvolvendo, em parceria com o Poder Público, ação de orientação e mediação do conflito escolar, porque a maioria dos problemas de gangues inicia-se na escola e pode ser resolvido na própria escola, antes que a rivalidade cresça."
Para Carlos Eduardo Rodrigues, titular da 6ª Delegacia de Polícia Civil, responsável pela região campeã de casos, a Sudeste, é difícil precisar a motivação dos homicídios, embora grande parte dos envolvidos, entre vítimas e autores, tenha algum tipo de ligação com o tráfico de drogas. "Antes de ter relação com o tráfico, por exemplo, passa pelo lado social. Mas temos dado prioridade aos crimes contra pessoas e ao tráfico. O índice de apuração de autoria de homicídios, até junho, foi de 100% e de tentativa, 83%, como apresentamos na última reunião do programa de Integração e Gestão da Segurança Pública (Igesp). Estamos dando respostas à altura."
A Secretaria de Defesa Social (Seds) informou que, no dia 26 de setembro, o secretário Rômulo Ferraz, o comandante-geral da PM, coronel Márcio Martins Sant´anna, e o chefe da Polícia Civil, delegado geral Cylton Brandão, virão a Juiz de Fora discutir com as autoridades locais os problemas de criminalidade do município. A partir desse diagnóstico regionalizado, serão traçadas metas objetivas e de curto prazo para a contenção da violência.
O professor da PUC-Minas e especialista em segurança pública, Robson Sávio, diz que a efetividade da ação policial no combate ao crime e na prevenção está diretamente relacionada ao número de ocorrências registradas. "Se há uma ação tímida neste sentido ou desarticulada, a tendência é de crescimento dos casos. Em relação às gangues, sem uma atuação eficiente, a possibilidade é que aumentem seu grau de letalidade na disputa e ampliação de território ", considerou. Sávio cita, ainda, a baixíssima condição de investigação dos assassinatos no país. Segundo ele, a taxa nacional de elucidação dos inquéritos de homicídio é de apenas 8%. Na prática, 92% dos homicídios no Brasil não recebem condenação.
"A violência tem um alto custo para a sociedade. Além de atingir pessoas jovens, em idade produtiva, os que não morrem sobrecarregam o sistema de internação. Isso sem contar os custos simbólicos, como a deterioração da qualidade de vida na cidade. O medo provocado pelo aumento da criminalidade tem impacto em todos os setores da sociedade. A incapacidade de dar respostas a essa questão e de oferecer oportunidade real para a juventude envolvida em delitos agrava o quadro. É preciso trabalhar numa perspectiva mais pró-ativa", avalia.