Instrutor é preso após suspeita de negociar CNH.

Instrutor é preso após suspeita de negociar CNH

Um instrutor de autoescola, 29 anos, foi preso em flagrante, na noite de ontem, durante o exame de direção no Bairro Parque Guarani, região Nordeste da cidade. Ele teria negociado com o próprio candidato, 23, a sua aprovação e acabou preso por um examinador da banca, que é policial civil. O aluno teria pago R$ 2 mil ao instrutor para obter o documento. A ocorrência confirma a suspeita de um esquema de venda de Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que já chegou a ser denunciado à Tribuna por pessoas que passam pelo processo. Segundo a delegada responsável pelo Setor de Habilitação de Juiz de Fora, Cristiane Maciel, a prática não seria desconhecida pela polícia. Ainda conforme a titular, pelo menos outros três inquéritos já foram instaurados somente este ano e estão em andamento para apurar a conduta ilegal de outros instrutores na cidade.

De acordo com Cristiane, o esquema funcionaria da seguinte forma: "O instrutor conversa com o aluno e dá um preço pela aprovação, alegando que o valor será dividido entre ele e o examinador. Diz que precisa conversar com o avaliador para que o mesmo facilite o exame. No dia em que o candidato é aprovado, o instrutor cobra o valor combinado. Isso não é novo, e instauramos outros inquéritos para apurar a situação. O que não havia acontecido até então era o flagrante", explicou a delegada.

Ontem o instrutor foi detido e encaminhado para o plantão da Polícia Civil junto com o aluno que disse ter pago R$ 2 mil pela aprovação ao seu instrutor. Segundo a assessoria da Polícia Civil, a voz de prisão foi dada pelo examinador que avaliaria o candidato. "Após o aluno entrar no carro para iniciar o teste, o instrutor chegou próximo ao veículo, pedindo-me que o ajudasse na aprovação do candidato, que seria seu primo e estaria passando por dificuldades financeiras. Desconfiei da atitude, e, em conversa com o aluno, ele me contou que havia pago a quantia ao seu instrutor", disse o examinador Rodrigo Francisco, 32.

Segundo o coordenador da Banca Examinadora e delegado regional Paulo Sérgio Xavier Virtuoso, "este tipo de conduta, seja ela interna ou externa, não será tolerada pela Polícia Civil. Quem for flagrado e identificado agindo de forma ilícita, será penalizado". Até o fechamento desta edição, os envolvidos ainda eram ouvidos pelo delegado de plantão, Hamilton Joaquim da Silva Júnior.

 

Denúncias precisam ser formalizadas

O alto índice de reprovação nos exames de rua pode estar abrindo margem para a corrupção na cidade. A média de aprovação sempre ficou entre 23% e 26%, mas, em abril, quando as provas passaram a acontecer somente no horário noturno, apenas 19% dos 2.937 candidatos avaliados conseguiram conquistar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Os outros 81% foram reprovados. O assunto ganhou repercussão em audiência pública na Câmara Municipal, no fim de maio, e, neste mês, os testes voltaram a acontecer também em horário diurno.

Após a matéria divulgada pela Tribuna, em abril, leitores denunciaram esquema de venda de carteiras. "Já me ofereceram, na minha autoescola, a aprovação por R$ 1.500. Isso acontece pela dificuldade em sermos aprovados", contou uma universitária. "Eu mesmo já passei por sete provas de rua, e as duas últimas no período noturno, e com muita chuva. É por isso que as pessoas acabam comprando carteira", denunciou uma outra leitora. "A cada reprovação, o aluno tem que desembolsar um considerável valor para nova prova. Multiplique isso por milhares de reprovações e acrescente o fato de os fiscais dos exames não serem fiscalizados, e temos um cenário de arbitrariedade, corrupção e chantagem", disse outro leitor.

De acordo com a delegada Cristiane Maciel, todas as denúncias precisam ser formalizadas para que seja instaurado o procedimento necessário a cada caso.

 

Fonte: Portal Tribuna de Minas
Publicado em 28 de junho de 2012 às 07:00