Força-tarefa sem ação definida.

A força-tarefa anunciada ontem para tentar reduzir o número de homicídios em Belo Horizonte foi marcada por muito discurso e poucas ações práticas. A única medida apresentada durante evento em um campo de futebol no bairro São Gabriel, na região Nordeste da capital, com a presença de 60 viaturas e 150 PMs, é a intensificação, a partir de agora, das ações que já vinham sendo feitas até então pelas polícias Militar e Civil.
A operação conjunta foi divulgada um dia depois da publicação dos índices de assassinatos em 2012. Entre janeiro e março, 207 pessoas foram mortas na capital, 13% a mais que no mesmo período do ano passado (183).

O mote da força-tarefa das polícias é evasivo. "Várias frentes somando esforços desde a prevenção ostensiva, a investigação dos crimes culminando com a prisão dos autores, a repressão qualificada, ações de educação e promoção social".
O secretário adjunto de Defesa Social, Robson Lucas da Silva, deu uma pista do que poderá ser feito, relacionando a criminalidade ao tráfico de drogas. "O fenômeno agora é que os traficantes estão digladiando entre si". Já o comandante de policiamento da capital, coronel Rogério Andrade, disse que a força-tarefa "é para chamar toda a comunidade a dar um recado de proteção à vida". A reportagem insistiu em saber alguma estratégia ou ação a ser adotada na força-tarefa. "Vamos intensificar as ações", repetiu o coronel.

A capital mineira vem registrando aumento no número de homicídios ano a ano. Em 2010, foram 620 casos, ante 762 no ano passado – aumento de 22%. Os números podem ser ainda maiores, já que a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) passou a considerar, somente de fevereiro para cá, os assassinatos registrados pela Polícia Civil.

Para o pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da UFMG, Luis Felipe Zilli, a força-tarefa denota improviso no combate à criminalidade. "A definição de força-tarefa é utilizada para ações específicas, que precisam de uma solução rápida. O aumento dos homicídios não é nenhuma novidade e se combate com investimentos, principalmente em polícia científica".

O presidente da ONG Defesa Social, Robert William, que esteve no evento, disse que a operação foi muito mais um marketing social do que uma ação efetiva. "Não se combate homicídio com força-tarefa, mas com policiamento preventivo nas ruas".

A Força-tarefa de Proteção à Vida, como foi denominada, vai atuar apenas em Belo Horizonte, embora a violência se revele crescente em todo o Estado. No primeiro trimestre, foram registrados 959 homicídios em Minas Gerais, uma média de 10,5 por dia, ou um a cada três horas. Não há previsão de a operação ser levada a outros municípios.

Definições

Força-tarefa. O dicionário Aurélio define força-tarefa como um grupamento de unidades de diferentes tipos com o fim de realizar uma tarefa específica. Para Wikipédia, o termo é usado em operações militares de caráter temporário.

Prefeitura e MPE atuam
Além das forças policiais, participam também da força-tarefa a Prefeitura de Belo Horizonte e o Ministério Público Estadual (MPE).
A prefeitura informou que os trabalhos de poda de árvores aumentam a segurança à noite nas ruas e que a presença da Guarda Municipal em espaços públicos é outro fator positivo. Ninguém no MPE foi localizado ontem para detalhar suas ações.

Denúncia
Polícia quer ajuda da população

De acordo com o Chefe de Divisão de Crimes contra a Vida, delegado Wagner Pinto, o diferencial da força-tarefa lançada ontem é que "as polícias estão buscando o auxílio da sociedade para denunciar os marginais". O disque-denúncia (181) foi divulgado como ferramenta para reduzir as mortes em Belo Horizonte.

"Não temos outro meio para identificar e retirar da sociedade os bandidos", disse o delegado. Para o pesquisador Luís Felipe Zilli, a fala do delegado demonstra que a polícia mineira ainda é muito dependente de provas testemunhais. "Em pleno século XXI, uma polícia depender de denúncias para apurar crimes beira o amadorismo".
O delegado reconhece a necessidade de investimentos para ter mais inquéritos apurados e mais pessoas presas. "Nosso efetivo está muito aquém da quantidade de homicídios que temos que investigar. O reaparelhamento da polícia e recursos humanos são imprescindíveis".
O secretário adjunto de Defesa Social, Robson Silva, afirmou que o Estado deve receber recursos, no segundo semestre, para tentar minimizar a precariedade das delegacias mineiras. (JS).

Fonte: Jornal O Tempo
Disponível em: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=200105,OTE&busca=Aumento%20da%20criminalidade&pagina=1