Execução a luz do dia na Praça
A prova de que a violência nas grandes cidades não está restrita a qualquer hora ou local foi à execução sumária de um homem, na manhã de ontem, em uma das praças mais movimentadas de Belo Horizonte, em região nobre e no horário em que moradores saíam de casa para levar filhos para escola, se exercitar ou trabalhar. A vítima foi um lavador de carros, assassinado com 13 tiros quando chegava à Praça JK, no bairro Sion, na região Cetro-Sul. Os suspeitos não se intimidaram com a presença de dezenas de pessoas.
Enquanto ouviam os disparos sem ter ideia de para onde estavam sendo dirigidos, os moradores que por ali passavam só fizeram correr. Espanto e desespero tomaram conta. Motoristas arrancaram os carros, descontrolados, e muita gente passou mal.
“Chegando aqui na praça, escutei o barulho, que achei ser bomba, e vi três sujeitos assassinando o cara que lava meu carro, na minha frente. Estava na avenida Bandeirantes e dei ré no carro. Sem pensar, fui entrando na contramão mesmo, tremendo com a mão no volante. Só queria sair dali o mais rapidamente”, contou um morador do Sion, que ao menos três vezes na semana vai à praça para caminhar.
A atitude desesperada do morador se repetiu com outros motoristas que passavam pela região, como uma mulher que chegou a bater o seu Honda Fit no meio-fio, na tentativa de sair do local.
Ação
De acordo com a Polícia Militar (PM), Cleiton Roberto Ferreira, 30, recebeu 13 tiros, dos cerca de 20 que foram disparados na praça. Ele trabalhava como lavador de carros na região há pelo menos quatro anos e era bastante conhecido dos frequentadores do entorno. Como fazia diariamente, ele estava arrumando os baldes para começar a lavagem de carros, quando foi surpreendido por três homens armados.
Ao perceber que estava cercado, Ferreira ainda tentou correr, mas não adiantou. Ele levou tiros nas pernas, costas e braços, e caiu no chão. Nessa hora, os três suspeitos saíram andando normalmente do local, como se nada tivesse acontecido. E ainda retornaram, ao perceber que a vítima fazia movimentos agonizantes. E lhe deram mais um tiro, dessa vez, na cabeça. Somente após esse último disparo, os criminosos foram embora da praça e fugiram em um carro Chevrolet, provavelmente Onix ou Ágile, preto.
Furto e roubo são principais crimes
O delegado Leandro Alves Santos, da 3ªDelegacia de Polícia Civil, que atende o bairro Sion, trata a execução ocorrida ontem, em plena praça JK, como exceção. Ele afirma que sua área é uma das que têm menor incidência de crimes violentos.
“Esse fenômeno de criminalidade atinge qualquer região, mas aqui não é a que se tem sensação maior de insegurança. O que mais vemos por aqui são furtos e roubos. Basicamente, são os que acontecem em maior volume na região. Justamente por ser onde tem população com poder aquisitivo elevado”, explica o policial.
Ele lembra que a região já teve índices mais elevados de crimes, principalmente quando o aglomerado da Serra estava em “guerra”. “Há mais ou menos um ano e meio não
ocorrem confrontos no aglomerado, o que reduz o número de mortes. O que provoca muito impacto é a disputa entre gangues, que causa mortes dos membros e de quem
não tem nada a ver e fica no meio do fogo cruzado. Mas não temos essa situação no momento”.
Autoridade
A execução aconteceu nas proximidades da residência do vice-governador de Minas, Antônio Andrade. De acordo com a assessoria de imprensa do governo, ele não foi afetado pelo fato e só tomou conhecimento do crime depois do ocorrido. Ele recebe segurança do Gabinete Militar do Governador do Estado de Minas Gerais (GMG), que abrange locais onde ele trabalhe, resida ou esteja, bem como as suas adjacências.
Fonte: O Tempo