Editorial do Jornal O Tempo reafirma sucateamento da Polícia Civil.

Editorial do Jornal O Tempo reafirma sucateamento da Polícia Civil

Império da Impunidade

Na última quarta-feira, os corpos de quatro jovens foram encontrados, sem camisas e sem documentos, num terreno entre duas rodovias em Vespasiano, município da região metropolitana de Belo Horizonte. Até ontem, eles não tinham sido identificados.

A partir da sua identificação, será possível lançar alguma hipótese sobre o móvel do crime. Quase sempre, ao tráfico de drogas são debitadas as mortes violentas de jovens habitantes das periferias das grandes cidades brasileiras, como é esse o caso.

Na realidade, será mais um crime que ficará insolúvel. Embora seja do seu dever, o Estado não se interessa em apurar esse tipo de crime. As vítimas e certamente os autores pertencem aos estratos inferiores da sociedade e o homicídio é como resolvem suas pendências.

O Brasil é campeão mundial em homicídios. Trata-se de uma das vergonhas nacionais. Tomado de brios, o Ministério da Justiça tentou concluir até o fim do ano passado os 143 mil inquéritos policiais abertos até 2007 para investigar homicídios e tentativas.

O esforço fracassou. Só 20% dos inquéritos chegou ao fim. Desses, 80% foi arquivado devido à fragilidade das investigações. Só 3% chegou aos prováveis culpados. O Ministério Público e a Justiça devolveram às polícias 69 mil por insuficiência na apuração.

Os inquéritos não continham apenas falhas, mas falta de investigação. O descaso é inquestionável. As polícias alegam falta de recursos. Isso foi comprovado por reportagem de O TEMPO que mostrou a diferença de investimentos nas polícias Militar e Civil do Estado.

Em consequência desse descalabro político-administrativo, o crime ganha escala. A falta de resolução dos homicídios dá aos criminosos a convicção de que não serão alcançados pela Justiça. O Ministério da Justiça estima que só em 5% dos casos há condenação.

O Brasil vive sob o império da impunidade. Aqui, o crime compensa.

 

Fonte: Publicado no jornal O Tempo do dia 24 de fevereiro de 2012.