Paz no interior de Minas é sepultada a bala
Nem mesmo as pequenas cidades do interior de Minas Gerais estão livres da criminalidade típica dos grandes centros. A taxa de homicídios, em 2010, dobrou nos municípios com até 100 mil habitantes em comparação com 2000, segundo o Mapa da Violência 2012. O levantamento foi divulgado ontem pelo Instituto Sangari. Enquanto no ano passado houve redução das ocorrências em Belo Horizonte e na Região Metropolitana (RMBH), 39 municípios sem histórico de assassinatos passaram a registrar homicídios.
A pesquisa aponta uma inversão do crescimento da violência no interior e na RMBH. Há uma década, os homicídios subiam nas cidades com 100 mil habitantes, principalmente naquelas com mais de 500 mil. Já entre 2004 e 2010, os índices dos municípios de pequeno porte aumentaram 17%, enquanto na Grande BH recuaram 20%.
"O crescimento centrou-se nos municípios de menor tamanho, principalmente na faixa de 20 mil a 50 mil habitantes, que antes dessa eclosão ostentavam índices relativamente baixos", diz um dos pesquisadores do Instituto Sangari, Júlio Waiselfisz.
O cenário de alta criminalidade no interior de Minas reflete a tendência de todo país. De acordo com o relatório, há um "processo de desconcentração" em andamento.
"Presenciamos o efeito inverso: o crescimento vertiginoso da violência em locais considerados pacíficos e tranquilos", aponta o estudo.
O documento informa que a manutenção desse ritmo pode contribuir para que os registros de homicídios nas cidades interioranas superem os números dos grandes centros, tanto em Minas Gerais como no restante do país. "Em menos de uma década, as taxas do interior deverão ultrapassar as das capitais e regiões metropolitanas".
A disseminação do crime para o interior de Minas se deve a dois fatores, na avaliação do sociólogo especialista em segurança pública Luiz Flávio Sapori. Ele diz que, nos últimos anos, houve uma maior repressão policial nas cidades de grande porte. "Os municípios pequenos ficaram em segundo plano", completa. A outra causa seria o crescimento do tráfico de drogas, principalmente do crack. "Basta aumentar o poder econômico no interior para a droga chegar. Onde há riqueza, ela acompanha".
Para contornar o problema, Waiselfisz defende o incremento de políticas públicas na tentativa de coibir a entrada de entorpecentes no país. "O Governo deve contemplar, em especial, municípios nas zonas de fronteira".
Na esfera estadual, Sapori apoia uma ação conjunta entre as polícias federal, civil e militar, como já acontece em BH e na Região Metropolitana, para identificar os homicidas e prendê-los. E reforça a importância de programas de inserção social como o Fica Vivo. "Os bandidos são do interior, eles não migraram da Capital para lá". Procurada, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) não se pronunciou sobre o assunto.
A violência fez o número de vítimas de assassinatos ultrapassar 1 milhão no país, em 30 anos. Em 1980, houve 13.900. Em 2010, o total subiu para 49.900. Com o crescimento da população, a taxa de homicídios passou de 11,7 para cada 100 mil habitantes, em 1980, para 26,2, no ano passado.
O estudo também mostra que estados que lideravam as estatísticas no início da década, como Pernambuco, Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso, Roraima e Distrito Federal, apresentam quedas do índice de homicídios. Mas a criminalidade aumentou nas 17 unidades federativas que tinham as menores taxas do país, em 2000. O ranking do Mapa da Violência 2012 é liderado por Alagoas, seguido por Espírito Santo, Pará, Pernambuco e Amapá.
Morte chega a 39 Municípios
A fronteira do mapa da violência está se expandindo em Minas. Em 2004, dos 853 municípios mineiros, 485 não haviam registrado nenhum homicídio. Em 2010, o número caiu para 446. Ou seja, 39 cidades entraram para as estatísticas. As que ficam próximas aos grandes centros e à Capital são as que mais sofrem com o avanço da criminalidade e do tráfico.
Em Matozinhos, na RMBH, as autoridades atrelam a violência às drogas. Em 2000, não houve nenhum assassinato no município. Já em 2010, foram 11. Para o prefeito Murilo Pereira de Rezende, os crimes têm relação com os grupos ligados a bandidos da Capital. “O aumento da violência e do tráfico deve ser tratado de forma global. Isso é um problema não só do município, mas no Estado e no Brasil”, diz.
Em Mantena, no Vale do Rio Doce, a criminalidade deu um salto em dez anos e somente neste ano foi possível começar a reverter a tendência de alta. De nenhum homicídio em 2000, segundo o estudo do Instituto Sangari, feito com base em números do Ministério da Saúde, a cidade passou para 14 no ano passado. A Polícia Militar tem estatísticas diferentes. “em 2009, foram oito assassinatos e em 2010, 12. Mas, com a prisão de algumas pessoas, as mortes caíram para cinco este ano”, diz o capitão da 159ª Cia da PM, Ralfe Veiga de Oliveira.
Homicídio cresce em cidade grande
S entre 2004 e 2010 houve queda de homicídios nas cidades mineiras com mais de 100 mil habitantes, em 2011 o número de pessoas assassinadas em 11 dos 14 municípios com mais de 150 mil habitantes aumentou. Em Belo Horizonte, o aumento de janeiro até 15 de novembro foi de 10%. Em 2010 foram 641 assassinatos em todo o ano, contra 706 registrados até novembro deste ano.
Governador Valadares é a primeira no ranking de 2011, com 82 assassinatos até 20 de setembro, resultando numa taxa de 30,87 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes, segundo estatística do Armazém de Dados da Polícia Militar. O município do Leste do Estado registrou no mesmo período do ano passado 64 homicídios, aumento de 28%. Em segundo lugar aparece Betim, com 135 pessoas assassinadas entre janeiro e setembro deste ano, taxa de 29,07 homicídios/100 mil moradores. Considerando os números absolutos, na cidade o crescimento foi de 8% (125 em 2010 contra 135, em 20110.
Considerando o número absoluto, Montes Claros, no Norte de Minas, foi o que teve o maior índice de crescimento de assassinatos (41,45%. De janeiro a setembro do ano passado foram 41 homicídios e neste ano o número subiu para 58. Os números foram divulgados exclusivamente pelo Hoje Em Dia no dia 13 de outubro deste ano.
Fonte: Jornal Hoje Em Dia, 15 de dezembro de 2011 – Caderno Minas, pág. 17