Disputa do tráfico de drogas desce o morro no Aglomerado da Serra.

Disputa do tráfico de drogas desce o morro no Aglomerado da Serra

“É guerra”. Foi assim que um garoto de 10 anos definiu, enquanto soltava pipa, as recentes e cada vez mais frequentes trocas de tiros entre traficantes rivais no aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Os conflitos se intensificaram no fim de dezembro e já interferiram no trajeto de uma linha de ônibus, que foi alterado por motivo de segurança. Além disso, segundo moradores da comunidade e do entorno, os conflitos estão saindo dos becos e tomando conta de todo o morro, inclusive de áreas mais movimentadas e próximas aos bairros.

A reportagem foi até a região, e os moradores, que pediram anonimato, contam que os confrontos são motivados pela disputa por pontos de venda de drogas. Os líderes do tráfico na região conhecida como Sacramento estariam tentando tomar a boca de fumo controlada pelos criminosos das áreas chamadas de Aldeia e Banda.

O último tiroteio foi na noite de segunda-feira, quando a polícia subiu o morro e interveio na disputa – um suspeito foi baleado. A troca de tiros ocorreu na praça do Cardoso, local de muito movimento e logo na entrada do aglomerado.

Ônibus. Os conflitos já alteram a rotina dos moradores da comunidade. Desde o início do ano, os ônibus da linha 102 não entram em alguns becos, por motivo de segurança. Os motoristas deixam os passageiros na praça do Cardoso e eles terminam o trajeto pé. “Por causa dos traficantes, nós, trabalhadores, ficamos prejudicados”, reclamou uma moradora. Nenhum representante do consórcio Dom Pedro II, responsável pela linha de ônibus, foi encontrado para comentar o caso.

Polícia Militar. Já o responsável pela 127ª Companhia da Polícia Militar, encarregada do policiamento na região, tenente Fernando Braga, o momento não é de crise no aglomerado da Serra.

População. Hoje, 50 mil pessoas moram no Aglomerado da Serra, que é formado por oito vilas.

Desgaste. A relação entre a comunidade e a PM é delicada. O momento mais tenso foi o assassinato de dois moradores sem antecedentes criminais durante uma abordagem de militares, em 2011, que motivou diversos protestos.

Reforço no policiamento pode despertar reação de criminosos

O último conflito entre traficantes no aglomerado da Serra ocorreu três dias depois da inauguração da Área Integrada Segurança Pública (Aisp), que aumentou o policiamento na comunidade, inclusive com apoio de policiais civis.

Para o sociólogo e professor da PUC Minas Moisés Augusto Soares, o aumento da repressão policial pode, inicialmente, aumentar os conflitos como uma demonstração de resistência por parte dos traficantes, que andam fortemente armados. “É preciso uma avaliação cuidadosa nesse momento e um trabalho de inteligência efetivo antes das operações de repressão. Se eles usarem a força diretamente podem até aumentar os conflitos”, analisou o especialista em segurança pública. Soares ainda criticou a apresentação dessas ações como forma de solução da segurança pública. “Mais do que a repressão é preciso combater efetivamente o tráfico de armas”.

Os moradores do aglomerado afirmam a ostentação das armas está cada vez mais comum.

“Estamos aqui e se andarmos até a esquina, naquela padaria, você vai ver um homem com uma escopeta”, disse um adolescente na entrada da comunidade.

Adolescente é detido com pistola israelense no Aglomerado da Serra

Menor foi surpreendido durante um patrulhamento no Beco Canaã; dois amigos do jovem correram e não foram localizados

Uma incursão da Polícia Militar no Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, terminou com um menor de 17 anos apreendido, na madrugada desta quinta-feira (30). Ele estava com uma pistola 9mm de fabricação israelense com numeração raspada.

Segundo a corporação, G.A.C estava no Beco Canaã, no Nossa Senhora de Fátima, com mais dois amigos quando os militares chegaram. Apenas o adolescente respeitou à ordem de parada e, durante buscas, a arma foi encontrada. Os outros jovens fugiram e não foram localizados.

O suspeito se recusou a dizer por qual motivo os amigos evadiram. G.A.C foi levado para o Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional (CIA/BH).

Fonte: O Tempo