Para os mineiros, um político corrupto prejudica mais a sociedade que um traficante de drogas. Essa foi a constatação da terceira edição da pesquisa Minas no Brasil de 2018, realizada pelo Grupo Mercadológica em parceria com O TEMPO. Pouco menos da metade dos entrevistados disseram que a corrupção na política é o fator mais nocivo para o cidadão. O resultado é mais do que o dobro do percentual dos que disseram que o tráfico de drogas é o maior problema.
Segundo o levantamento, 49,2% acreditam que quem se corrompe após assumir um cargo eletivo é o ator mais prejudicial para realidade do país. Já o traficante de drogas foi apontado por 21,7%, e um juiz injusto por 14,4%. Apenas 6,6% disseram que um policial corrupto seria o maior problema, enquanto 8,1% respondeu “nenhum deles”.
Veja AQUI infográfico com os detalhes da pesquisa.
O sociólogo e cientista político Moisés Augusto afirma que a corrupção na política é algo que sempre teve uma repulsa do cidadão, ao menos no discurso, mas que a operação Lava Jato fortaleceu esse pensamento. “Uma pesquisa como essa está captando o senso comum de percepção dos problemas do país. Um quadro de operação da Lava Jato que gera questionamentos das instituições políticas fortaleceu na população uma indignação contra a classe política”, diz.
Ele destaca, porém, que o problema não é um ator qualquer da sociedade, mas sim o sistema como um todo. “Essa conversa de renovação da política, de novas caras, acontece há muito tempo e não resolve o problema. Eu tenho 57 anos e vejo a política trocar de caras constantemente e a coisa só piora. Não adianta caras novas se mantiver um sistema corrompido. Temos um sistema falido. Não adianta falar do político sem falar que existe um corruptor. Não adianta falar do político sem falar das condições do exercício do mandato, da imunidade parlamentar”, destacou.
A grande diferença entre o percentual atingido pelos políticos corruptos e as demais alternativas apresentadas aos entrevistas na pesquisa demonstra um erro de compreensão, na avaliação do cientista político. Segundo Moisés Augusto, é preciso ter a compreensão que o problema da segurança pública é do Estado como um todo e não está concentrado na classe política.
“Essa percepção de senso comum distingue a política dos demais agentes do Estado que atuam na segurança pública. Mas a cobrança tem que ser feita nos agentes do Estado como um todo. O Judiciário é um representante do Estado, o policial é um representante do Estado e até mesmo o tráfico de drogas só ocorre por uma falha do Estado A pessoa pensa que o Estado é só a presidência e o Congresso Nacional, mas ele é muito mais amplo”, concluiu.
Resultado é distinto em duas regiões
O político corrupto foi apontado como o principal problema da sociedade em todas as estratificações da pesquisa. Porém, quando se analisa o resultado por regiões, ele perdeu a liderança em duas áreas de Minas. Os moradores da Zona da Mata/Campo das Vertentes disseram que o maior problema são os traficantes: 43,5% disseram que esses criminosos são os mais nocivos contra 32,9% que apontaram os políticos. No Triângulo, os traficantes tiveram 35,3% das respostas. Os juízes injustos foram apontados como os mais nocivos por 31,1% e os políticos aparecem somente na terceira posição, com 27,3%.
Cor. Os policiais corruptos foram apontados como principal problema do país por menos de 10% dos entrevistados no resultado geral da pesquisa. Esse resultado se repete quando se analisa todas as estratificações do levantamento.
Nesse caso a única diferença mais significativa ocorre em relação ao pensamento de brancos e não brancos. Enquanto 7,9% de negros e pardos acreditam que uma polícia corrupta é o mais nocivo para sociedade, entre os brancos esse percentual cai para 5%.
“Essa diferença ocorre é porque são os negros que mais sofrem com os abusos policiais na periferia”, destaca o sociólogo Moisés Augusto.
Fonte: O Tempo (com adaptações)