Denuncia do SINDPOL/MG deixa claro que a política de integração só funciona muito bem na hora de maquiar os dados sobre a criminalidade e a violência
Juiz de fora. Os índices de criminalidade em Juiz de Fora, na Zona da Mata, podem estar sendo distorcidos pela Polícia Militar (PM). A suspeita foi levantada depois que a reportagem de O TEMPO teve acesso a boletins de ocorrência (atuais Registros de Eventos de Defesa Social – Reds) em que as descrições dos delitos não corresponderiam aos históricos relatados.
As alterações seriam feitas, por exemplo, para que crimes graves como tentativa de homicídio, assalto à mão armada e homicídio fossem trocados por lesão corporal, extorsão e encontro de cadáver, respectivamente. Esses delitos de menor gravidade não fazem parte do Índice de Criminalidade Violenta (ICV) elaborado pelo Estado. Como o ICV é um dos componentes do prêmio por produtividade pago pelo governo aos funcionários públicos que atingem as metas estabelecidas, as alterações poderiam contribuir para a queda das estatísticas em Minas. Somente em Juiz de Fora, a 4ª Região de Polícia Militar informou que o número de crimes violentos neste ano deve cair 14% em relação a 2011.
Um exemplo que poderia demonstrar tal situação é o do Reds 689905 (ver acima). Nem mesmo o anúncio do assalto, como relatado no histórico da ocorrência, serviu para que o crime fosse tipificado dessa forma, sendo descrito como extorsão.
Conforme o coordenador do Núcleo de Pesquisas sobre Violência da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), André Moysés Gaio, é bastante provável que a distorção esteja acontecendo. "A causa seria a política criminal formulada em Minas nos últimos dez anos, que se baseia na análise estatística e no georreferenciamento para o planejamento de suas atividades, induzindo a esse mascaramento".
ORIENTAÇÃO. Gaio acredita que a distorção nos Reds parta dos próprios policiais, a partir da ordem dos comandantes. "Quanto menos crimes na área do batalhão, melhor". O especialista admite que outros fatores poderiam motivar os equívocos na elaboração do documento, como a falta de treinamento dos policiais na identificação dos crimes.