Avenida Raja Gabaglia, altura do número 300, bairro Gutierrez, região Oeste de Belo Horizonte. Em plena luz do dia, alheio ao fluxo intenso de veículos, um motociclista – com a placa do veículo tapada por um plástico – aproveita o sinal vermelho e aponta uma arma para o motorista de uma Ferrari. Em questão de segundos, relógio e outros pertences são levados sem o menor constrangimento.
O flagrante reforça o alerta para os crimes violentos que envolvem, na fuga dos bandidos ou na execução, o uso de motocicletas. O anonimato conferido pelos capacetes e, principalmente, a agilidade e a velocidade da moto facilitam os roubos e dificultam a ação das forças de segurança.
Para a Polícia Militar, “as motocicletas são alvo de preocupação constante”, conforme admite a chefe do Comando de Policiamento da Capital (CPC), coronel Cláudia Romualdo. Mesmo sem citar dados estatísticos, ela garante que as motos “são muito usadas para a prática de crimes”.
Falta punição
Coordenador do Centro de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz é categórico ao apontar a principal causa dos crimes cometidos com o auxílio de motocicletas: “omissão”.
“O poder público e os órgãos de segurança não conseguem aplicar punições exemplares e tampouco realizar operações, como fiscalizações constante, para coibir os delitos”, diz.
Para Julio Jacobo, que também coordena a pesquisa anual Mapa da Violência, as ações preventivas e ostensivas não acompanham o ritmo acelerado de crescimento da frota de motos. “Este tipo de veículo deveria ser, apenas, um instrumento de trabalho. Mas em alguns casos não é. Por isso, é preciso discutir alternativas, como até mesmo novas leis”, acrescenta o sociólogo.
Em São Paulo, há dois anos tentou-se, sem sucesso, a proibição do carona nas motos. A proposta de lei foi vetada pelo governador Geraldo Alckmin. Em Minas, projeto semelhante tramita na Assembleia Legislativa.
Ação
A Polícia Militar garante que tem sido criteriosa na tentativa de coibir essas ocorrências. “Temos que ter muito cuidado, pois existem pessoas de bem que utilizam as motos como meio de trabalho ou passeio. Porém, em todas as nossas operações, como as fiscalizações no trânsito, temos dado prioridade na abordagem de motociclistas, principalmente se há um garupa”, afirma a coronel Cláudia Romualdo.
Fonte: Hoje em Dia