“Classe C” busca segurança para os filhos na escola particular

Preocupadas com a insegurança nas escolas da rede pública, um número cada vez maior de pessoas da classe C tem sacrificado seus orçamentos e matriculado seus filhos em escolas particulares. De acordo com uma pesquisa da Faculdade de Educação (FAE), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 24% das famílias entrevistadas em Belo Horizonte, entre 2010 e 2011, trocaram o ensino gratuito das crianças pelo privado.

Foram feitas 300 entrevistas, em bairros periféricos de Belo Horizonte, entre 2010 e 2011. A pesquisa ficou centrada em alunos do ensino fundamental, entre 9 e 13 anos. A renda familiar considerada foi de R$ 1.200 a R$ 5.174.
Segundo a coordenadora do estudo, a especialista em sociologia da educação Maria Alice Nogueira, essa mudança, antes restrita às classes sociais mais elevadas, atinge hoje o universo das camadas populares. O principal motivo é a falta de segurança nas instituições públicas. "A preocupação com a qualidade do ensino só vem em segundo plano", diz.

Além da violência, as famílias temem a facilidade do acesso às drogas e a falta de disciplina no ambiente escolar. De acordo com Maria Alice, os pais têm uma visão de impotência em relação aos educadores da rede pública. "Eles não confiam no controle dos professores junto às crianças e aos jovens".

De acordo com a pesquisa, os pais buscam um ambiente "saudável" para os filhos, o que eles julgam encontrar nas instituições privadas. "Essas famílias acreditam que a inserção em um centro educacional privado dará oportunidade às crianças, que estarão entre boas companhias", disse Maria Alice. Segundo ela, os pais confiam nas escolas privadas e estão satisfeitos com o resultado.

Esse é o caso da doméstica Cíntia Aparecida da Cruz, 29. Mesmo sacrificando quase um terço de sua renda mensal, que é de R$ 1.153, no pagamento da mensalidade, ela fez questão de matricular a filha Carolina Cristina da Cruz, 13, em uma instituição privada.

Cíntia contou que tomou a decisão neste ano, depois que um aluno esfaqueou outro dentro da escola estadual na qual a menina estudava. "Pensei na segurança da minha filha e quis investir nos estudos dela. Vale a pena o sacrifício, pois sei que ela estará em um lugar melhor", disse.

Participação

Particular. O diálogo com as escolas também mudou. Como na iniciativa privada os pais pagam pelo serviço, eles cobram mais resultados e opinam sobre o método de ensino.

Desequilíbrio financeiro pode forçar retorno à rede pública
A decisão de matricular os filhos em um escola privada vem acompanhada da incerteza de conseguir mantê-los na instituição. A pesquisa aponta que, em qualquer situação de risco, como desemprego, desequilíbrio financeiro ou mesmo se o filho repetir de ano, os pais decidem levá-los de volta à rede pública.
"Não há uma garantia desse ensino. Os filhos estão suscetíveis a essas mudanças", conta a pesquisadora Maria Alice. Ela explica ainda que a viabilização dessa mudança decorre de um processo de ascensão social percebido nos últimos dez anos.
As famílias passaram a ter um maior poder aquisitivo e formaram um novo grupo consumidor. "A primeira mudança é tirar os filhos da escola pública. Em segundo lugar, é adquirir um plano de saúde", afirma Maria Alice. (IC)
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Instituições ligadas a igrejas
Tendência observada na última década, o novo grupo consumidor de ensino privado, formado pela chamada nova classe média, fez surgir um novo segmento de escolas particulares nos bairros periféricos. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Maria Alice Nogueira, essas escolas são de fundação recente – uma média de dez anos – e cobram mensalidades que variam entre R$ 200 e R$ 500. Nas instituições privadas tradicionais, a mensalidade chega a R$ 2.000.

Outras características dessas instituições é o pequeno quadro de alunos, com, em média, 150 estudantes. Essas escolas são, normalmente, ligadas a igrejas evangélicas.

Criado há 14 anos com a finalidade de oferecer educação cristã, o Instituto Cristão do Caiçara, no bairro de mesmo nome, na região Noroeste, atende alunos da classe média e popular. De acordo com a diretora do instituto, Isabela Vilela de Carvalho, apesar de a escola ser da igreja Batista, a maioria dos alunos vem de fora do templo e de regiões como Venda Nova e Pampulha. "O que percebemos aqui são famílias que se esforçam para pagar a mensalidade. Perdemos muitos alunos por motivos financeiros", disse.

Segundo ela, em média, 25 estudantes deixam a escola a cada ano. "Na mesma proporção em que temos um baixa no número de alunos matriculados, chegam novos. Costumamos receber alunos mais velhos das escolas públicas", conta. A dona de casa Débora Isabel Barbosa, 39, enxergou na baixa mensalidade da instituição a oportunidade de tirar o filho da rede pública. "Era muita bagunça, e os professores não conseguiam controlar. Sem falar na falta de segurança".

O filho dela, Gabriel Barbosa, 14, foi matriculado na nova escola no ano passado e, desde então, afirma Débora, o desempenho do garoto só tem melhorado. "Aqui, os professores cobram mais e não deixam a gente bagunçar". disse Gabriel. (IC).

Fonte: Jornal O Tempo
Disponível em: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=200350,OTE&busca=Classe%20c%20busca%20seguran%E7a&pagina=1