A maior tragédia
Apuração da Polícia Civil é destacada em editorial de importante veículo da imprensa mineira
Sempre que há morte ou lesão em seres humanos, a Polícia Civil entra em campo. Isso pode não ser condição “sine qua non”, mas o trabalho de seus investigadores aumenta de importância diante daquelas tristes eventualidades.
Foi o que aconteceu com o desastre na mina da Samarco, em Mariana, no fim do ano passado. Praticamente no mesmo dia do evento, a Polícia Civil começou a investigar as causas do acidente, cujos resultados vieram agora à luz.
O trabalho, consolidado em 13 volumes e quase 2.500 páginas, parece irretocável. São fixadas as responsabilidades, no âmbito da empresa, pelas mortes de 19 pessoas, pela inundação e pela poluição de águas potáveis.
Outro inquérito, ainda em curso, apura os crimes ambientais e as irregularidades nos licenciamentos. Certamente, este irá responsabilizar também os agentes do Estado que se omitiram no cumprimento de suas atribuições.
O inquérito pede a prisão de seis executivos da empresa e de um consultor externo. A eles é imputada a acusação de homicídio qualificado, quando ocorre a impossibilidade de defesa das vítimas diante de um perigo comum.
Para a Polícia Civil, os executivos da Samarco tinham o poder de corrigir os problemas na barragem que se rompeu, mas não o fizeram. Assumiram, então, o risco – daí a caracterização de homicídio com dolo eventual.
A empresa não aceitou as conclusões do inquérito e promete recorrer. O documento vai agora para o Ministério Público e este, se corroborar a denúncia, o remeterá à Justiça, para que esta declare ou não réus os acusados.
O acidente de Mariana foi o maior desastre ambiental do Brasil. Por que os executivos da Samarco correram esse risco é um mistério. Ou não. Eles também são vítimas do capital financeiro, que só quer saber de lucros.
Reduzir a segurança ambiental foi um recurso para aumentar os lucros. Empresas como essa não são controladas por pessoas, mas por fundos, e estes querem retorno. O caso Samarco é o símbolo de uma tragédia maior.
Fonte: O Tempo